Por Dom Orani Tempesta
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro/RJ
Caríssimos amigos e irmãos, neste mês de maio chegamos ao término do tempo pascal. Depois desse tempo de alegria e vida nova em que celebramos a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, viveremos, no início do mês de junho, a grande vigília e a Festa Solene de Pentecostes.
Nessa solenidade celebraremos o dia em que o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos no cenáculo e a Igreja iniciou sua missão pública. Recordaremos que essa luz nos foi entregue para que sejamos aqueles que a levam pelo testemunho e pela palavra vida afora, neste mundo que anda dilacerado por contínuas discórdias.
Crer no Espírito Santo significa adorá-lo do mesmo modo que adoramos ao Pai e ao Filho. Significa crer que o Espírito Santo vem ao nosso coração para, como filhos de Deus, conhecermos o Pai do Céu. Movidos pela graça do Espírito Santo podemos comunicar as maravilhas de Deus aos confins da Terra.
O dom do Espírito é fruto da Páscoa de Cristo. Ele nos foi dado no nosso Batismo para continuarmos a missão de Jesus como animados e ardorosos anunciadores do Evangelho.
Assim como a festa judaica da Lei se celebra cinquenta dias após a Páscoa, o espírito de amor é a nova lei, a Lei do cristão, pois “O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo seu Espírito que nos foi dado” (Rm 5,5).
O texto que por excelência nos mostra a grandeza da manifestação do evento de Pentecostes é tirado do Livro dos Atos dos Apóstolos 2,1-11, que também é conhecido como o Evangelho do Espírito Santo devido ao protagonismo dado à ação deste ao longo de todo o texto. A passagem descreve para nós exatamente o momento da efusão do Espírito Santo sobre a comunidade que estava reunida no dia de Pentecostes.
O relato é composto de detalhes específicos, apresentando imagens que fazem recordar momentos importantes no Antigo Testamento, como o vento impetuoso, as línguas de fogo como simbolismo da presença de Deus, a diversidade reunida entre tantos. O barulho, como o vento e o fogo (cf. At 2,2-3), evoca precisamente a manifestação de Deus no monte Sinai quando Ele, dando-lhes a lei, constituiu Israel como seu povo. Com as mesmas características, Ele se manifesta ao seu novo povo, a Igreja: o vento significa a novidade transcendente de sua ação na história dos homens, o fogo simboliza a energia transformadora dos atos do Espírito Santo.
Esse último detalhe chama a atenção: o grande sinal da comunhão e da unidade manifesto no dia de Pentecostes. A diversidade de povos apresentada no relato que conseguia escutar o anúncio da Palavra de Deus em sua própria língua nos faz recordar o episódio da torre de Babel, mas no seu sentido inverso: se em Babel temos a desunião pela tentativa de ser como Deus, Pentecostes recupera o que foi feito lá e traz a unidade entre os homens. O Espírito Santo nos faz falar a língua que é acessível a todos, a linguagem do amor de Deus. Faz com que a universalidade da Igreja chegue a todos os cantos, aos confins do mundo. A linguagem do amor deve ser a linguagem com que o cristão se comunica em meio ao mundo.
O Espírito quer também hoje nos restaurar, capacitar e transformar: restaurar nossos ânimos, nossos cansaços, nossas fraquezas e nosso caminhar rotineiro. O Senhor que nos envia ao meio do mundo, para que ali sejamos sal da Terra e luz, não somente nos envia, mas nos sustenta na missão, dando-nos sabedoria, coragem e humildade para o serviço. Esse mesmo Espírito nos transforma em homens novos, traz a nós uma vida nova, conforme celebramos intensamente neste tempo da Páscoa.
Neste mês de maio, não deixemos de pedir a proteção de Maria, para que ela nos faça dóceis à ação do Espírito, para que Ele gere também Cristo em nós. Deus abençoe e guarde a todos.
Fonte: Revista Ave Maria