A quem iremos, Senhor?

A quem iremos, Senhor? Só tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o santo de Deus (Jo 6, 68-69).

Escolher. Saber escolher. Escolhas pequenas. Escolhas fundamentais. Escolhas a partir das quais se organiza uma existência. O tema da escolha se tornou complicado devido à pluralidade das opções, em razão de uma reflexão séria sobre o sentido das escolhas definitivas como prisões que impedem a aceitação do fato da mudança. Na primeira leitura deste domingo vemos Josué declarar peremptoriamente sua escolha: “Quanto a mim e à minha família, nós serviremos ao Senhor”. No final do discurso do Pão da Vida de João, a exclamação de Pedro nos toca profundamente no momento em que o Mestre questiona se os Doze querem ir embora como os outros: “A quem iremos Senhor?”

Escolher Cristo, optar por Cristo não quer dizer apenas ser membro de uma religião e professar intelectualmente um credo que encerra dogmas de fé. Trata-se de criar com ele um pacto, de orientar palavras, gestos, propósitos sob a claridade de sua adorável pessoa. Trata-se de encontrar sua palavra viva a ressoar no mais profundo de nós mesmos e no mundo. Uma palavra que mexe com nosso projeto existencial. Um palavra que nos coloca num estado de profunda e feliz inquietude.

“Todos os cristãos, em qualquer lugar e situação que se encontrem, estão convidados a renovar hoje mesmo seu encontro pessoal com Jesus Cristo, ou pelo menos, tomar a decisão de deixar-se encontrar por Ele, de procurá-lo dia a dia sem cessar” (Papa Francisco, A alegria do Evangelho, 3). Sim, talvez o mais urgente seria que nos deixássemos encontrar por ele.

Nunca perdemos de vista que ele, o Senhor, vive e é o ressuscitado e que, de muitas formas e maneiras, apresenta-se a nós. No final da infância, no tempo da juventude e da maturidade sempre somos convidados a nos colocar em sua presença de tal sorte que vivamos nele e com ele. Tudo isso sem beatice e ritos adocicados. Uma forte presença que nos envolve e nos interpela. Nada de repetições de estilos pastorais, de rezas, de costumes sem sua presença tonificante e forte.

Sabemos que importante na vida é viver e viver em plenitude. Por diferentes circunstâncias escolhemos a pessoa de Cristo, o caminho de Cristo, a estrada que nos é aberta por sua pessoa, por ele que é grão de trigo que morre, esposo que nos espera, coração que nos acolhe quando estamos sobrecarregados.

Optar por Cristo quer dizer acolher a força do Evangelho. O Evangelho é Jesus Cristo, sua mensagem, sua vida, sua ressurreição. Optar por Jesus quer dizer viver casamento, paternidade, maternidade, juventude, maturidade, velhice, doença e tempo sadio, todos os relacionamentos do jeito que Jesus viveu. Trata-se de uma decisão que acompanha a vida toda.

Depois de dois mil anos as palavras de Jesus não deixam de nos surpreender. Os valores que jesus viveu e que queremos abraçar não deixam ser, à primeira vista, desconcertantes: “Os valores que Jesus propõe como capazes de levar o ser humano ao máximo desenvolvimento não deixam de ser desconcertantes: o perdão diante da violência, partilhar em vez de acumular, cooperar em vez de competir, ser austeros e não consumistas, amar sem esperar retribuição, dar a vida pelos outros em vez de desfrutá-la até o fim para o próprio interesse” (Pedro José Gomez Serrano).

Os que optam por Cristo escolhem viver sob a luz de uma sabedoria alternativa. Ela será experimentada por aqueles que seguem o caminho chamado Jesus, pelos que passam pela porta estreita e apontam na direção de uma abundância de vida. Os que o seguem experimentam profunda alegria. Não somente a alegria que podem proporcionar os sucessos pessoais ou simplesmente a falta de conflitos, mas aquela que nasce por sermos profundamente amados.

A quem iremos? Os jovens não podem caminhar a esmo borboleteando, seguindo a doutrina da hora, das mensagens que às dezenas chegam aos seus celulares. Os casais não são meros comparsas de uma caminhada qualquer, mas amam-se na força do amor de Jesus. A quem iremos? Os que optam pela vida consagrada haverão de ter esse Jesus como esposo delicado de sua venturosa vida.

A quem iremos? “Toda a vida de Jesus, sua forma de tratar os pobres, seus gestos, sua coerência, sua generosidade simples e cotidiana, e finalmente sua total dedicação, tudo é precioso e fala à nossa vida pessoal” (Papa Francisco, A alegria do Evangelho, n. 265)

 


Prece

Quero seguir-te.

Tu me conheces e sabes o que quero,
tanto meus projetos como minhas fraquezas.
Não posso ocultar-te nada Jesus.
Gostaria de deixar de pensar em mim e
dedicar mais tempo a ti.
Gostaria de entregar-me inteiramente a ti.
Gostaria de seguir-te aonde tu fores.
Mas nem isso me atrevo a dizer-te,
porque sou fraco.
Tu o sabes melhor do que eu.
Sabes de que barro sou feito,
tão frágil e inconstante.
Por isso, preciso ainda mais de ti,
para que tu me guies sem cessar,
para que sejas meu apoio e meu descanso.
Obrigado, Jesus, por tua amizade!

Fonte: Franciscanos.org.br


FREI ALMIR GUIMARÃES, OFMingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.

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