A promoção de vida humana na bioética: o cuidado com o próximo

Imagem de Arek Socha em Pixabay

Por Robson Ribeiro de Oliveira Castro

 

Como seria nossa vida se não fôssemos seres que vivem em relação? E qual a realidade de um mundo que deve se preocupar com os outros e fazer bom uso da ética? Pais e responsáveis demonstram carinho e zelo com a criança desde seu nascimento. Nós, ao crescermos, vamos fazendo escolhas e traçando nossos próprios caminhos.

Destarte, a bioética nos convoca à reflexão de uma construção de relações éticas saudáveis e humanizadas. Assim, a relação entre fé e ciência faz parte da nossa vida e das nossas relações. A ciência, ao longo da história, tem contribuído com o aprofundamento da fé religiosa. Sendo assim, a ciência bioética deve estar atenta à realidade da dignidade e ao valor do ser humano.

Por isso, é preciso compreender a vida humana, tudo que existe merece respeito e tem dignidade de existir. Para tanto é necessário que, à luz da ciência, estamos em uma grande obra da criação e que somos seres e relação.

Infelizmente, vivemos em uma sociedade que só visa o lucro; o ser humano se tornou mais uma mercadoria a ser utilizada e descartada. Nossa vida se pauta em comprar ou não em assumir uma posição econômico-social. As condições atuais, a modernidade e a tecnologia não nos deixam mais ficar isolados do mundo, mesmo em uma pandemia que já fez milhares de mortos. Por isso, é necessário mudar! É preciso olhar para a forma como tratamos os outros e que façamos o caminho da ética do cuidado, pautado no bem comum e preocupação com os mais frágeis da sociedade.

Tal contexto nos remete às conjunturas associadas à Bioética, que tem por objetivo refletir a vida humana e todas as suas realidades, além de se colocar atenta em responder os questionamentos relacionados com o valor da pessoa. Desta forma, também acrescente ao debate a realidade da dignidade da vida, a valorização integral do ser humano, a sadia convivência social, o respeito e o cuidado com todos, sendo assim: o ser humano tem seu valor incondicional, independente de quaisquer outros aspectos.

É preciso, urgentemente, respeitar o outro e, portanto, respeitar a cada indivíduo, atentos à verdadeira conversão da consciência atrelado ao conhecimento cientifico para pensar o bem do próximo e não o meu próprio bem-estar. É a partir desta concepção que devemos observar na realidade o que temos de bom e como tratar o outro.

O Papa Francisco esteve internado recentemente. Após uma cirurgia bem-sucedida, está de volta às atividades. Entretanto quero chamar a atenção para a sua recuperação que foi permeada por caminhadas e visitas aos outros enfermos do Hospital Agostino Gemelli, onde estava internado.

Entretanto, encontramos uma sociedade imersa no egoísmo, na ganância e no narcisismo. Para tanto é urgente confirmar a convocação a uma ética do cuidado e do zelo pelo próximo, pois, ao se falar de vidas humanas, todos os esforços devem ser colocados em prática para salvar.

Infelizmente, a ganancia, o individualismo e a competição desenfreada comprometem a relação do ser humano com o outro. Por isso é urgente se questionar: Quando o ser humano chegará ao entendimento de que é apenas uma espécie entre bilhões de outras espécies que existem no nosso planeta?

Infelizmente ainda prevalece o interesse econômico das grandes empresas que visam o lucro e colocam em risco a vida humana. Com a atual cultura do descartável, como nos apresenta o Papa Francisco, há uma tendência a tornar a vida humana como “parte do negócio”, algo que se pode barganhar. Estamos diante de um “mercado da morte” no qual o ser humano é um artigo a mais.

Diante desta realidade não é admissível tal descaso dos líderes e responsáveis pela realidade, uma vez que, do ponto de vista ético, é inconcebível que o valor moral da vida esteja subordinado ao poder econômico. Neste cenário, a sociedade está negando que a vida humana tem um valor intrínseco e sagrado desde o seu começo até o seu fim. Este valor é inalienável e, acima de tudo, a vida humana não pode ser reduzida a um item do mercado.

É preciso conscientizar a todos de que a bioética é uma área da ciência que luta pela vida, que se empenha na garantia dos direitos humanos, anseia pela garantia da dignidade da vida de todos os indivíduos. É preciso, além disso, observar a consciência do indivíduo diante do debate bioético, pautado em uma responsabilidade com o próximo, qual o seu nível de consciência e de formação ética contemporânea. Observar sempre a realidade na busca por espaços de discussão diante dos desafios atuais e o descaso com a saúde pública.

Quando observamos essa realidade é possível vislumbrar um caminho de grandes desafios, mas não podemos perder a esperança de dias melhores. Para tanto, só será possível uma verdadeira mudança quando soubermos compreender as nossas necessidades e agir com consciência e grande discernimento.

Por isso, é preciso a condução do ser humano, sua índole e o zelo pelo próximo. Para tanto, a ciência tem um desempenho imprescindível no critério social, quando esta entende que tem seu lugar na sociedade.

A realidade atual vivenciada por nós é um convite a olhar para esta pandemia como desafio a ser superado. Como caminho para criar esperança e gestar uma realidade nova, novos projetos e outro jeito de viver, mais humano, mais ético e solidário. Sendo assim é preciso observar que a nossa conduta moral seja pautada pelas regras aplicadas no cotidiano e que devem ser respeitadas por cada um, principalmente, neste período de distanciamento e isolamento social.

Fonte: franciscanos.org.br


Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves é mestre em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), em BH, professor de teologia no Instituto Teológico Franciscano (ITF), em Petrópolis (RJ) e membro do Conselho Regional de Formação (CRF) – LESTE II do CNLB.

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