A porta de entrada na Semana das Semanas

Imagem ilustrativa de Frei Fábio Melo Vasconcelos

Por Frei Almir Guimarães

 

♦ “Vinde, subamos juntos ao Monte das Oliveiras e corramos ao encontro de Cristo que hoje volta de Betânia e se encaminha voluntariamente para aquela venerável e santa Paixão, a fim de realizar o mistério da nossa salvação” (Santo André de Creta, Lecionário Monástico II, p. 511).

♦ Chegamos aos dias da Semana Santa. Um duplo sentimento toma conta de nós quando acompanhamos os passos da liturgia: alegria pelo Rei que entra triunfantemente em Jerusalém, mas humildemente sentado num burrico. Aqueles que esperavam a redenção imediata para o povo, cantam, acenam ramos, atapetam o caminho por onde ele deve passar. Quando a procissão dos ramos penetra no templo, tudo é austeridade: leitura das dores do servo de Javé. Paulo escreve aos Filipenses falando daquele que, de condição divina, agora era obediente até a morte e morte de cruz. Tudo culminando com a leitura da Paixão quando ouvimos o grito de abandono: “Meu Deus, meu Deus! Por que me abandonaste?”.

♦ A meditação de todas essas passagens nos mergulha num clima de reconhecimento de nossas faltas e também faz nascer em nós desejo enorme de pedido de perdão. No final da liturgia sentimos que passamos por uma porta que vai nos permitir acompanhar os passos do amor sem limites. O amor do Senhor foi tão grande que esta semana só pode ser um tempo de recolhimento, de silêncio e de imersão total no abismo do amor de Deus. Passaremos o tempo batendo no peito e dizendo: “Piedade, Senhor, piedade!”.

♦ Um pouco antes de entrar em Jerusalém, Jesus havia estado em casa de Marta, Maria e Lázaro, seus amigos. Sentira aperto no coração? Experimentara frio e solidão? Precisava de fôlego que lhe seria dado pelos que o amavam e estimavam? É assim. Na hora da dor, os amigos podem nos valer.

♦ A Procissão dos Ramos evoca, pois, a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. O formulário da bênção das palmas suplica o olhar do Altíssimo sobre os ramos que os fiéis carregam em sinal de sua adesão a Cristo Rei que ingressa em sua cidade sentado num burrico. A festa de hoje é exaltação do Cristo-Rei. Os paramentos são vermelhos e lembram o fogo do amor e do martírio. Em toda a Semana Santa o que ocorre é esse paradoxo de dor e de alegria.

♦ Carregamos em nossas mãos ramos. Acompanhamos o Cristo na procissão de entrada. Ele é nosso Rei. Não somos donos de nós mesmos. Ele é o centro de nossa vida, de nossa vida de cristãos, de nossa família. Para ele, orientamos o melhor de nós mesmos. Fazemos questão de guardar o ramo deste domingo em nossa casa. Haveremos de olhar para ele como um sacramental, um sinal de uma vivência religiosa profunda.

♦ “O Senhor vem, mas não rodeado de pompa como se fosse conquistar a glória. Ele não discutirá, diz a Escritura, nem gritará, nem ninguém ouvirá sua voz. Pelo contrário, será manso e humilde se apresentará com vestes pobres e aparência modesta” (André de Creta, ut supra, p. 511).

♦ Jesus entra em Jerusalém montado num jumento. O gesto marca a pobreza e a simplicidade do Messias. Pede que lhe providenciem um asno que depois haverá de devolver. O burrico é a cavalgadura do Messias pobre e humilde de Zacarias (9,9). Insistamos: o burrico é apenas emprestado. Por sua vez, o cortejo que acompanha Jesus mostra características reais expressas nos mantos estendidos pelo chão e nas palavras de ovação. Há diferença entre a maneira como Jesus de um lado e as pessoas encaram a situação.

♦ “Em vez de ramos e mantos sem vida, em vez de folhagens que alegram o olhar por pouco tempo, mas depressa perdem o seu verdor, prostremo-nos aos pés de Cristo, revestido dele próprio – vós todos que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo (Gl 3,27) – prostremo-nos a seus pés com mantos estendidos” (André de Creta, ut supra, p. 512).

Fonte: Franciscanos


FREI ALMIR GUIMARÃES, OFMingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.

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