Queridos irmãos e queridas irmãs, “no princípio era a Palavra (…), e a Palavra se fez carne e veio morar entre nós” (Jo 1,14). Assim nos diz o evangelista São João, em seu prólogo. A Palavra de Deus revelada em Jesus Cristo é acolhida pela Igreja que, por sua vez, busca anunciá-la e testemunhá-la no coração do mundo. Ela é fonte de constante renovação, com a esperança de que a Palavra se torne cada vez mais o coração de toda a ação pastoral, evangelizadora, missionária e espiritual da Igreja.
A Igreja no Brasil celebra neste ano o jubileu do mês da Bíblia. São 50 anos de uma caminhada bonita nas nossas comunidades eclesiais, paróquias, pastorais e movimentos. A cada ano, celebramos o mês da Bíblia, estudando e rezando com um livro. É para todos nós oportunidade celebrativa e formativa, nos motivando a cada vez mais para promover a animação bíblica em nossas comunidades.
A partir da urgência de anunciar a Palavra de Deus e a beleza de fazer ecoar no coração de todos a Palavra que renova e impulsiona à missão e à luz do Concílio Vaticano II, é que o mês da Bíblia foi instituído, para mobilizar o aprofundamento e a vivência da Palavra.
O centro da nossa ação pastoral é a Palavra de Deus. De modo particular, nossos Grupos de Reflexão, com os círculos bíblicos, têm sido encontros fecundos onde as famílias, grupos diversos nas comunidades e pastorais têm buscado partilhar a Palavra de Deus e colocá-la como alma de toda ação evangelizadora. A leitura orante da Palavra de Deus, de forma comunitária ou pessoal, tem como objetivo despertar para que a Palavra de Deus seja fonte de vida e esperança para todos que a acolhem. Precisamos, irmãos e irmãs, descobrir nas Escrituras o valor sagrado da dignidade humana e atender o convite ao discipulado missionário de Jesus em nossos dias. Em toda a nossa ação pastoral, a mensagem do Evangelho deve ser sempre atualizada, é ela que nos propõe a sermos fermento em todas as dimensões da vida.
Inspirada na Palavra de Deus a Igreja vive dela. Nela o povo de Deus sempre encontrou sua força. A comunidade cristã cresce e se mantém unida na escuta, na celebração e no estudo da Sagrada Escritura (Cf. VD, n.3). Assim sendo, há de se colocar a Palavra de Deus no centro da nossa ação pastoral. Essa centralidade é fundamental para a identificação e configuração com o Verbo que se fez carne.
A Sagrada Escritura é patrimônio do cristianismo. É importante que ela seja sempre fonte inspiradora de oração comum, de fraternidade e de conversão.
Este ano o livro a ser estudado é a Carta de São Paulo Apóstolo aos Gálatas e o lema é extraído do mesmo: “pois todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3,28d).
A Carta de São Paulo aos Gálatas aborda especialmente dois temas: o primeiro é o conflito no início do cristianismo que envolvia judeu-cristãos e gentio-cristãos. Os judeus convertidos ao cristianismo queriam que os gentios guardassem duas leis: a da circuncisão e a do puro/impuro. O segundo tema refere-se a um “Hino Batismal” transcrito por Paulo, conhecido por outros grupos dos cristianismos originários. “Nesse Hino se diz que todos os cristãos são filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo, porque todos foram batizados e se vestiram de Cristo. Então, são colocadas três assertivas: a) não há judeu nem grego; b) não há escravo nem livre; c) não há homem e mulher; pois todos são UM só em Cristo Jesus (Gl 3,26-28)”.
Paulo escreve sua carta em seis capítulos e trata sobre os seguintes temas específicos: o único Evangelho; a liberdade cristã; a fé agindo pelo amor e sobre os frutos do Espírito. O centro da carta está em 5,1: “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou”. Tudo converge para esse ponto, e o que segue é decorrência. Esse pensamento conclui o que veio antes e dá início ao que vem depois.
Paulo abre a carta perguntando como os gálatas (gentios, não judeus) puderam aceitar um evangelho diferente do que ele lhes tinha anunciado. Em seguida, defende a sua posição, mostrando ter recebido de Deus o mesmo chamado para o serviço do Evangelho de Jesus entre os pagãos. Ele não se sente devedor dos dirigentes de Jerusalém, mas assim mesmo confrontou sua doutrina com eles, que apenas pediram que Paulo e seus companheiros se lembrassem dos pobres. É aqui que Paulo descreve como foi que ele se converteu a Cristo. Em Gl 1,15-16 ele escreve: “Aquele que me separou desde o seio materno e me chamou por sua graça, houve por bem revelar em mim o seu Filho, para que eu o evangelizasse entre os gentios”.
Que a celebração do jubileu de ouro do mês da Bíblia seja uma oportunidade para dinamizar a animação bíblica pastoral em toda a nossa Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, pois é o encontro com Jesus na Eucaristia e na Palavra, que alimentam a nossa espiritualidade no dia a dia da vida.
Dom Marco Aurélio Gubiotti
Bispo Diocesano de Itabira-Coronel Fabriciano
“Pela Graça de Deus” (1Cor 15,10)