A Palavra de Deus é celebrada

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Poderia colocar como título deste pequeno artigo “Celebração da Palavra de Deus”. Dizendo assim, infelizmente, logo se pensa num esquema de Celebração da Palavra de Deus. O que gostaria de realçar nesta exposição é a função da Palavra de Deus em toda ação litúrgica.

Desde o início da Igreja, as comunidades celebrantes, antes de realizarem a ação sacramental da bênção ou da ação santificadora de Deus, contemplavam, faziam memória do mistério celebrado através da leitura da Palavra de Deus. Em outras palavras, a Palavra de Deus das Sagradas Escrituras, quando lidas na Igreja, constituem um rito memorial dos mistérios celebrados. O Concílio Vaticano II nos ensina que Cristo está presente quando se leem as Escrituras na igreja, isto é, na comunidade de fé reunida: Presente está (Cristo) pela sua palavra, pois é Ele mesmo que fala quando se leem as Sagradas Escrituras na igreja” (SC 7). Um pouco antes, se diz que depois de Pentecostes os discípulos começaram a ler as Sagradas Escrituras nas reuniões cultuais da Igreja: Nunca, depois disso, a Igreja deixou de reunir-se para celebrar o mistério pascal: lendo ‘tudo quanto a ele se referia em todas as Escrituras’ (Lc 24,27), celebrando a Eucaristia, na qual ‘se torna novamente presente a vitória e o triunfo de sua morte’…(SC 6).

Realmente, a Missa como a celebração dos outros sacramentos consta de duas grandes partes: a Liturgia da Palavra e a Liturgia sacramental. Contudo, as duas partes formam um só ato de culto. Assim compreendemos que a Liturgia da Palavra constitui também uma celebração ou comemoração dos mistérios celebrados. Nela se lê tudo quanto se refere ao mistério pascal. A Palavra de Deus constitui um sinal sensível e significativo da salvação ou da ação salvadora de Cristo Jesus.

A exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini (Palavra do Senhor), de Bento XVI, sobre a Palavra de Deus vem insistir novamente que a Liturgia é o lugar privilegiado da Palavra de Deus. Na ação litúrgica, memorial da salvação, a Palavra de Deus é atual, viva e eficaz. Na celebração Deus nos toca e nos vivifica por sua Palavra. Sendo seus ouvintes atentos, concebemos a Palavra de Deus em nossos corações, a exemplo de Maria e a damos à luz por boas obras.

A gente não vai à igreja para estudar a Palavra de Deus ou para aprender mais sobre a fé ou a História da salvação, mas para vivenciar os mistérios revelados e comunicados por Deus através de sua Palavra lida e escutada. A gente não vai fazer uma leitura comunitária da Palavra de Deus. Não existe lugar para o folheto na escuta da Palavra de Deus. A escuta da palavra de Deus na celebração litúrgica torna-se oração. É preciso ouvi-la nas virtudes teologais da fé, da esperança e da caridade, em atitude de acolhida e de adesão a esta palavra. Na escuta e na resposta silenciosa realiza-se a conversão e se renova a aliança entre Deus e o ouvinte atento da Palavra de Deus. Após a escuta da Palavra de Deus, costuma seguir-se a homilia que quer ajudar a acolher no coração a Palavra de Deus e dar uma resposta a ela tanto na celebração como na vida.

Costumo dizer aos fiéis que devemos rezar a Palavra de Deus. Sim, ela constitui um rito comemorativo dos mistérios celebrados que se atualizam, não só através da ação sacramental, mas também pela Liturgia da Palavra. Rezamos pelos ouvidos. Importa, pois, deixar-nos envolver, iluminar e animar pela Palavra de Deus lida na Sagrada Liturgia. Para que ela possa atingir o nosso íntimo importa evitar todo ruído, todo barulho, todo movimento durante a sua leitura.

Fonte: Franciscanos – Especial Gotas de Liturgia /Frei Alberto Beckhäuser

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