Por Dom Vital Corbellini
Bispo da Diocese de Marabá (PA)
A Palavra de Jesus é de uma fonte inesgotável, porque quem beber dela terá na pessoa uma fonte de água que jorra para a vida eterna (cfr. Jo 4,14). Jesus é esta palavra que alimenta a alma e a vida humana. Ele é como remédio que cura as feridas das pessoas em vista da salvação humana. Diante do desafio lançado por Jesus aos discípulos se estes não queriam ir embora, porque Jesus pediu que as pessoas seguidoras comessem a sua carne e bebessem o seu sangue, para ter a vida verdadeira, disse Pedro a Jesus que só Ele tinha palavras de vida eterna (Jo 6, 68). Os Padres da Igreja, primeiros escritores cristãos sempre tiveram um grande apreço pela Palavra de Deus. A seguir, vejamos a importância da Palavra de Deus na sua missão de pastores do povo do Senhor em vista da salvação humana.
A palavra de Jesus, vida para as pessoas
São João Crisóstomo, bispo de Constantinopla, séculos IV e V afirmou que a palavra de Jesus é força, é vida para as pessoas como saúde espiritual para os doentes. Além das obras de caridade está o ensinamento da palavra do Senhor, que são a dieta, o clima melhor, o lugar dos remédios, o lugar dos ferros cirúrgicos nas coisas que devam ser cortadas, tiradas, e também nas coisas que são mantidas, caracterizando desta forma pela Palavra de Deus, melhorias para vida humana.[1]
A superação da doutrina errada
São João Crisóstomo também disse que uma doutrina não unida a Igreja não leva ao nada, de modo que a sua superação é dada pela Palavra de Cristo Jesus que garante a verdade na comunidade eclesial não somente pelo incômodo dado aos irmãos e irmãs por causa da visão errada das coisas, mas também, a palavra do Senhor combate aos ataques externos[2]. A vida da comunidade é vista na sua concretude da verdade no sentido de que as coisas sejam debatidas em vista do bem maior, que é Jesus, a sua Palavra. O bispo teve presente a escolha dos diáconos na comunidade primitiva enquanto os apóstolos permaneceram com o ministério da palavra dado ao povo de Deus (cf. At 6,1s)[3].
A alegria de ensinar
Santo Agostinho, bispo de Hipona, séculos IV e V, disse que a missão de ensinar proveniente do batismo traz alegrias imensas, porque trata-se de anunciar e de denunciar as coisas, os fatos a partir da palavra de Jesus no mundo de seu tempo[4]. Esta alegria de ensinar a partir da Palavra de Deus é dada também quando os ministros se dirigem às crianças na comunidade que dever-se-á falar de uma forma simples, pois isto será uma novidade não somente para as crianças, mas também para os ministros consagrados, ou leigos e leigas que coordenam uma celebração da palavra[5]. A alegria interior à Palavra de Deus provem pela oração, pelo contato com o mistério divino para levar as pessoas ao conhecimento do Senhor e viver a sua palavra de salvação na realidade conhecida[6]. O bispo de Hipona solicitava às pessoas missionárias para renovar-se nas coisas divinas e da palavra de Deus anunciada para que a pregação dita ao público não fosse fria, mas se fizesse nova, pela própria palavra de Deus que leva à pregação e à prática sempre novas para o povo em geral[7].
Exortação à pregação
São Gregório Magno, bispo de Roma e Papa, séculos VI e VII solicitava à pregação da Palavra de Deus para o povo em vista da conversão de vida para todas as pessoas, dado que era também fundamental para os pregadores. O motivo essencial vinha do próprio Filho de Deus, que gerado pelo Pai, veio a este mundo, para revelar a todas as pessoas a salvação através de sua palavra, quanto mais a pregação deveria estar presente na vida das pessoas, da comunidade e dos povos[8]. A pregação com o testemunho de vida são essenciais na vida dos ministros consagrados e do povo de Deus[9].
A atuação diversa de dois profetas
São Gregório também tinha presentes a atuação de dois profetas: Jeremias e Isaias na referência da pregação da palavra de Deus, do Senhor em vista do anúncio do mandamento da Lei divina pelo amor a Deus, ao próximo como a si mesmo (cfr. Mt 22,37-39). Se o primeiro, no caso Jeremias tentou evitar o dever da pregação, dizendo que ele não sabia falar, porque era um adolescente (cfr. Jr 1,6) o segundo, no caso Isaias quando Deus procurava alguém para fazer a pregação, ele se ofereceu exclamando a sua disposição de servir, pois ele desejava ser enviado (cfr. Is 6,8). A expressão externa dos dois profetas foi diferente, mas surgiu de uma idêntica fonte de amor que pediu a necessidade da pregação com o testemunho de vida dos dois grandes profetas do Antigo Testamento para o povo do Senhor[10].
A preparação para o anúncio da Palavra de Deus
São Basílio Magno, bispo de Cesaréia, século IV afirmou a importância da preparação no anúncio da palavra divina. Ele tomou um exemplo dado na vida comum pois da mesma forma como o espectador percebe o esforço dos atletas pelas regras esportivas colocadas, muito mais os fiéis que vêem à comunidade para participar e contemplar os espetáculos, assim tanto altos e portentosos, querem ouvir a sabedoria divina, inefável, a Palavra de Deus que as levem para casa com o estímulo a contemplar as realidades propostas e a viver por sua parte, a Palavra do Altíssimo visando sempre a conversão de vida. O ministro e as pessoas que coordenam a comunidade façam a preparação digna da Palavra de Deus para si e para os outros. O bispo dizia que é necessário que quem ama estes grandes espetáculos, tenha um animo preparado para acolher a Palavra de Deus, vivê-la e anunciá-la com amor aos outros[11].
A Palavra de Deus é remédio de salvação à vida humana porque ela supera o egoísmo, a discriminação, o ódio entre as pessoas, visando o amor, a entrega, a doação da própria vida ao Senhor e aos irmãos e irmãs. Ela é um remédio para viver bem com Deus e com os irmãos e irmãs, tendo o horizonte a vida divina, a salvação do ser humano, dada pelo Senhor Jesus.
Fonte: CNBB Norte2
[1] Cfr. Giovanni Crisostomo. Il sacerdozio, 4,3. In: La Teologia dei Padri, Volume IV. Roma: Città Nuova Editrice. 1982, pg. 127.
[2] Cfr. Idem, pg. 127.
[3] Cfr. Ibidem, pg. 127.
[4] Cfr. Agostino. Come insegnare i principianti, I,17. In: Ibidem, pg. 129.
[5] Cfr. Ibidem, pg. 129
[6] Cfr. Ibidem, pg. 129.
[7] Cfr. Ibidem, pg. 129.
[8] Cfr. Gregorio Magno. Lettera al Vescovo Ciriaco di Costantinopoli.. In: Ibidem, 130-131.
[9] Cfr. Ibidem, pg. 130.
[10] Cfr. Ibidem, pg. 130.
[11] Cfr. Basilio il Grande. Esamerone, 6,1. In: Ibidem, pg. 139.