Por Dom Antonio de Assis Ribeiro, SDB
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém
No livro Atos dos Apóstolos há muitas referências sobre a oração. Os Apóstolos, diáconos e fiéis assimilaram não somente a sensibilidade social de Jesus Cristo, através do serviço da Caridade, mas também seguiram seus passos na experiência da Oração.
Logo no primeiro capítulo há duas importantes referências sobre a experiência da oração. A primeira delas é o testemunho comunitário: “todos eles tinham os mesmos sentimentos e eram assíduos na oração, junto com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus” (At 1,14). A comunidade primitiva de Jerusalém testemunhava a vida de oração e o espírito fraterno.
A segunda referência sobre a oração presente nos Atos dos Apóstolos está no contexto da escolha de quem deveria ocupar o lugar de Judas Iscariotes. A comunidade apontou dois nomes, José, chamado Bársabas e apelidado o Justo, e Matias. Em seguida fizeram esta oração: «Senhor, tu conheces o coração de todos. Mostra-nos qual destes dois tu escolheste para ocupar, no serviço do apostolado, o lugar que Judas abandonou para seguir o seu destino.» Então tiraram a sorte entre os dois. E a sorte caiu em Matias, que foi juntado ao número dos onze apóstolos” (At 2,23-26). A oração é o elemento essencial do processo de discernimento. Assim como Jesus esteve em oração antes da escolha dos doze, também os Apóstolos entram em oração para escolher quem deveria substituir Judas que tinha abandonado o grupo.
No segundo capítulo temos a terceira referência sobre a oração quando se apresenta o primeiro retrato da comunidade primitiva. “Eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, no partir do pão e nas orações…. Diariamente, todos juntos frequentavam o Templo… Louvavam a Deus e eram estimados por todo o povo” (At 2,42.46-47). Nesses versículos aparecem: a perseverança na oração, na comunhão fraterna e participação comunitária no templo. Era então, uma comunidade aberta! Comunidades orantes, são comunidades abertas e fraternas.
No terceiro capítulo encontramos outra menção à oração, dessa vez relacionada à intenção de Pedro e João de fazer a oração das três horas da tarde no Templo de Jerusalém; ali encontram um coxo de nascença que lhes pede esmola, mas Pedro disse: «Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho eu lhe dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareu, levante-se e comece a andar!» Depois Pedro pegou a mão direita do homem e o ajudou a se levantar” (At 3,1-7). A experiência da oração não deve estar isolada para não ser estéril; o testemunho da Caridade é necessário. Aquele que fora beneficiado saiu “andando, pulando e louvando a Deus” (At 3,8).
Outros aspectos:
– Após a experiência da oração sempre acontece algo extraordinário. Pedro e João tinham sido presos e, ao serem libertados, narraram o que aconteceu aos demais irmãos e todos se puseram a rezar; e quando terminaram a oração, estremeceu o lugar em que estavam reunidos e ficaram cheios do Espírito Santo e, com coragem, anunciavam a palavra de Deus (cf. At 4,23-31); a oração supera o medo!
– Narração semelhante é aquela que fala da prisão de Pedro por ordem de Herodes; de noite Pedro, enquanto dormia entre dois soldados, preso com duas correntes, e com guardas que o vigiavam a porta da prisão, um anjo o libertou; era oração fervorosa da Igreja subia continuamente até Deus, intercedendo em favor dele (cf. At 12,5);
– Com o surgimento de novas necessidades, sobretudo em relação ao cuidado dos mais pobres, os apóstolos delegam esse serviços aos diáconos, para que dessa forma, os apóstolos pudessem se dedicar inteiramente à oração e ao serviço da Palavra (cf. At 6,4);
– Quando os apóstolos em Jerusalém, souberam que o diácono Felipe estava pregando na Samaria, Pedro e João rezaram pelos samaritanos, a fim de que eles recebessem o Espírito Santo (cf. At 8,15); A oração promove os efeitos positivos da ação missionária (cf. também é o caso da conversão dos pagãos de Jope – Visão de Cornélio e o envio de Pedro – At 10,1-48); a oração também suscita missionários como resposta da Divina Providência diante das urgências da evangelização (cf. At 10,4-6; Lc 10,2);
– Também a cura do paralítico Eneias e a ressurreição de Tabita são efeitos extraordinários do poder de Jesus Cristo através da oração de Pedro (cf. At 9,32-42); a mensagem dessa narração é muito sugestiva: a oração tem efeito terapêutico e até com força para resgatar a vida e relançar seu sentido; Paulo, após o naufrágio na Ilha de Malta, foi hospedado na casa do chefe da Ilha, cujo pai estava doente; o apóstolo em oração, impôs as mãos sobre ele e ficou curado (cf. At 28,7-8);
– Foi através da oração, entrando em êxtase, que Pedro superou seus preconceitos e sua mentalidade maniqueísta (de coisas puras e impuras) e sem barreira e nem medo fosse ao encontro dos pagãos (cf. At 11,1-18);
– Em Antioquia durante uma reunião litúrgica com jejum, o Espírito Santo disse: «Separem para mim Barnabé e Saulo, a fim de fazerem o trabalho para o qual eu os chamei.» Então eles jejuaram e rezaram; depois impuseram as mãos sobre Barnabé e Saulo, e se despediram deles” (At 13,2); também o envio missionário acontece num contexto orante;
– Paulo de modo comovente se despede de Mileto em oração, rezando pelo povo (cf. At 20,36); em sua viagem, por onde passava, nas paradas rezava com os fiéis na beira mar como em Tiro (cf. At 21,5). Após o naufrágio na ilha de Malta, Paulo foi acolhido pelo chefe daquela comunidade que se chamava Públio; tomando conhecimento de que o seu pai estava doente Paulo foi visitá-lo e, orando, impôs as mãos sobre ele e ficou curado (cf. At 28,7-9).
Algumas conclusões:
- A oração é uma experiência permanente da vida da comunidade primitiva e constitui uma das características presentes nos retratos dela;
- A experiência da oração não aparece isolada, mas profundamente relacionada à comunhão fraterna e o crescimento da comunidade;
- A oração é experiência integrante dos processos de discernimento para que se realize a vontade de Deus;
- A oração gera efeitos grandiosos e promove a coragem dos fiéis;
- A oração é uma experiência que deve ter prioridade na vida dos apóstolos (cf. At 6,4);
- A oração garante a fecundidade da ação missionária.
PARA A REFLEXÃO PESSOAL:
- O que há de comum entre a oração de Jesus e a experiência da Comunidade primitiva?
- O que mais lhe chamou a atenção da experiência de Oração de Pedro e Paulo?
- Por que cremos que a oração promove os bons frutos da ação missionária?
Fonte: CNBB Norte2