Por Frei Luiz Iakovacz
Na caminhada da Igreja Primitiva, o núcleo fundante da pregação dos apóstolos era a Ressurreição de Cristo. O Natal e outras Solenidades são bem posteriores.
Ressuscitar é voltar a viver com seu próprio corpo e, para nunca mais morrer. É uma questão de fé que vai além da ciência e do senso comum.
Desde as mais antigas culturas até hoje, todos têm dificuldades de lidar com o ´além-túmulo´.
O indiano Siddartha Gautama (563 – 483 aC), mais conhecido como Buda, ensinava que o maior problema da humanidade é o sofrimento. Eliminado este, o ser humano viverá em “perene estado de perfeita paz”. Para chegar a este ponto, é preciso passar por metempsicoses, isto é, a alma de alguém que morre, migra para outras matérias e/ou corpos. Isto, sucessivamente, até chegar à iluminação completa, o nirvana.
Para Buda, não há necessidade de divindades porque a pessoa mesma se auto redime.
Muitos séculos depois, o francês Alan Kardec (1804 – 1869) pregava que o espírito de uma pessoa, ao perder seu corpo pela morte, se encarna em outra pessoa. Este ‘espírito etéreo’ chegará à felicidade completa, através de sucessivas reencarnações. Para ele, Jesus Cristo é um “espírito de primeiro grau, um espírito superior a todos e tem a missão de ajudar a humanidade, rumo à perfeição”.
Como o budismo, o espiritismo não professa divindades porque o próprio ser humano pode realizar sua autorredenção.
O judaísmo, também, tem dificuldades quando a questão são os mortos. Estes habitam o Sheol, uma espécie de vida inativa e em completa escuridão. Sua morada é o fundo dos mares ou as profundezas da terra. Quem morrer, tanto dos ímpios como dos justos “o Sheol é o lugar que engole todos os que descem à cova” (Pr 1,12).
Jesus compara a morte/ressurreição com a semente de trigo que, quando colocada na terra, morre e renasce” (Jo 12,24). Em outra passagem diz que, no céu, “seremos como anjos” (Mt 22,30).
Os apóstolos anunciam que foi Deus quem ressuscitou “Jesus dentre os mortos” (At 2,24; 13,30; 26,8). Paulo é categórico ao afirmar que o “homem morre uma única vez e, depois, vem o julgamento” (Hb 9,27).
No episódio do Monte Tabor, o evangelista Lucas escreve que “enquanto Jesus rezava, se transfigurou” e os apóstolos se extasiaram diante do que viam (Lc 9,28-36).
Sabemos que o Tabor é como um preâmbulo do Calvário. Lá, Jesus rezava; aqui o Pai O ressuscita. Podemos dizer que entre o Tabor e o Calvário, está a vida de cada pessoa.
À medida que praticarmos o bem e nos convertermos, seremos um pequeno reflexo da luz de Deus. No apóstolo João, podemos perceber o quanto ele corrigiu seu modo de agir – e porque não dizer – nele, nasceu um início de uma ressurreição/iluminação. Ele era ambicioso e pediu para assentar-se num lugar de destaque quando Jesus instaurasse seu reinado (Mc 10,35-37). Era vingativo, pois pediu que Jesus mandasse um raio do céu e fulminasse os samaritanos que lhe negaram hospedagem (Lc 9,51-56).
No final da vida, porém, vemos um João convertido e amoroso: “Filhinhos, amemo-nos uns aos outros porque o amor vem de Deus” (1Jo 4,7).É preciso crer na ressurreição da carne, pois é isso que professamos quando rezamos o Credo. Esta meta final é obra exclusiva de Deus, pois – assim como criou o ser humano do ´adam´, pó da terra – fará ressurgir, do mesmo pó, o nosso corpo glorioso.
No entanto e com certeza, nosso Criador anseia e nos ajuda a que, pela prática do bem, nossa vida seja um pequeno reflexo do Deus/Luz, pois aquele que disse “Eu sou a Luz do mundo” (Jo 8,12), também ensinou “vós sois a luz do mundo” (Mt 5,14).
Fonte: Franciscanos
Frei Luiz Iakovacz, OFM, frade desta Província da Imaculada, é coordenador da Fraternidade Santo Antônio de Santana Galvão de Colatina (ES).