A mística natalina da manjedoura

Menino Jesus - por Fray Foto em Cathopic

Por Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)

 

O Natal traz sempre o fascínio da volta às origens da nossa vida, tem o poder de recriar-nos e despertar a reserva de inocência e de ternura que permanece recôndita em nossos corações. Possivelmente, o presépio que serviu de refúgio à Sagrada Família para ser o lugar do nascimento de Jesus, fosse uma caverna esculpida em rochedo, em grego katalyma, que significa albergue.  

A manjedoura, como berço que acolheu o Menino Deus, passou por várias transformações no imaginário simbólico e cultural. No Oriente, temos a manjedoura em pedra, em forma de esquife, o bebê é envolto como um defunto, indicando o túmulo de Jesus que nasce de novo na ressurreição. Há, em várias Igrejas, a solução litúrgica de manjedouras inseridas no altar, apontando ao simbolismo eucarístico e ao significado de Belém como Casa do Pão.  

Já na Idade Média, com o franciscanismo, se assume o realismo humanista do camponês e, assumindo plenamente o mistério da encarnação, a manjedoura revela a pobreza e a humildade mais expressivas, a solidariedade irmanada com os pobres, e as criaturas que cedem seu lugar de alimento ao Menino Jesus. Junto com esta devoção carinhosa, focalizando o presépio e a manjedoura, com um olhar de terna admiração, surgiu a espiritualidade do “embalar” o Menino Jesus, bastante difundido em mosteiros e conventos femininos.  

Balançar o menino fazia parte de um ritual que transparecia a mística amorosa de adorar a criança divina. Surgiram nesse cenário do embalo e do abraço afetuoso ao bebê divino, representado por uma imagem, as famosas canções de ninar que foram cantadas junto às outras músicas natalinas, com o Padre apresentando e embalando o Menino Jesus. As pastorais de Handel, Bach, Corelli, Manfredini, incorporam o ritmo do ninar despertando emoções idílicas e sentimentos de lar e proteção.  

Talvez achemos estes costumes defasados e ingênuos, mas será que não precisamos de humanizar-nos mais e sermos capazes de reviver a criança interior que anseia por acolhimento, compreensão e ser amada gratuitamente? Quem sabe seria importante não só ter um olhar mais delicado para a manjedoura, mas transformar-nos em manjedouras para o Menino Jesus e tantos irmãos e irmãs que gritam por um pouco de carinho, atenção, e trato mais afetuoso? Por um Natal que nos irmane na ternura e na inocência, no perdão e acolhimento, para que Jesus possa nascer uma vez mais no nosso coração. Deus seja louvado! 

Fonte: CNBB

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