“Acompanha-nos neste itinerário a Virgem Santa, que seguiu em silêncio o Filho Jesus até o Calvário, participando com grande dor no seu sacrifício, cooperando assim no mistério da Redenção e tornando-se Mãe de todos os crentes”. (Bento XVI)
Por Jackson Erpen – Cidade do Vaticano
O Papa Francisco observou em sua homilia na celebração da Festa de Nossa Senhora de Guadalupe, em 12 de dezembro de 2017, que Maria “nunca roubou para si mesma nada do seu Filho; serviu-o porque é mãe“. “Fiel ao seu Mestre, que é o seu Filho, o único Redentor, jamais quis reter para si algo do seu Filho. Nunca se apresentou como corredentora. Não, discípula!”
Padre Gerson Schmidt*, inspirando-se nos escritos dos Santos Padres, no magistério dos Papas e documentos conciliares, continua nos propondo neste nosso espaço reflexões sobre a mediação de Maria, destacando seu papel de colaboradora na obra de salvação realizada por seu Filho Jesus:
“Estamos refletindo vários programas sobre a mediação de Maria na obra salvífica da humanidade, sempre subordinada a Cristo. Maria é colaboradora na obra da redenção enquanto conduz ao único Salvador Jesus Cristo. Em nenhum outro nome nós seremos salvos.
São João Paulo II, na sua grande encíclica Redemptoris Mater, declarou assim: “Maria tornou-Se não só a ‘mãe-nutriz’ do Filho do Homem, mas também a ‘cooperadora generosa, de modo absolutamente singular’, do Messias e Redentor. Ela avançava na peregrinação da Fé e, nessa sua peregrinação até aos pés da Cruz, foi-se realizando, ao mesmo tempo, com as suas ações e os seus sofrimentos, a sua cooperação materna e esponsal em toda a missão do Salvador. […] A cooperação de Maria participa, com o seu carácter subordinado, na universalidade da mediação do Redentor, único Mediador”[1].
Portanto, São João Paulo II destaca aqui o caráter subordinado de Maria sempre ao divino Redentor dos homens. Bento XVI, por sua vez, afirmou assim: “Acompanha-nos neste itinerário a Virgem Santa, que seguiu em silêncio o Filho Jesus até o Calvário, participando com grande dor no seu sacrifício, cooperando assim no mistério da Redenção e tornando-se Mãe de todos os crentes (cf. Jo 19, 25-27)”.
Não se pode dizer ingenuamente que a “mediação universal” de Maria e o seu papel na obra salvífica sejam mera opinião. Embora a Igreja ainda não tenha se manifestado solenemente a esse respeito, por meio de uma declaração “ex cathedra”, a sua notável presença nos documentos comuns dos Santos Padres leva-nos àquela obediência da fé, que também se aplica ao que propõe o Magistério ordinário e universal, isto é, “o ensino comum e universal de uma determinada doutrina pelo papa e por todos os bispos espalhados pelo mundo”.
Em nosso espaço Memória Histórica 60 anos do Concilio, lembramos que o próprio Concílio Vaticano II referendou tudo isso que dissemos até agora. Tendo embora, por sua constante preocupação ecumênica, evitado a palavra Corredentora – para não ferir os ouvidos dos irmãos cristãos que não veneram a Virgem Santíssima – o Concílio Vaticano II expôs de modo claro e sem equívoco a doutrina da mediação de Maria tal como a entende a Igreja Católica. Eis alguns textos da Constituição Dogmática Lumen gentium especialmente significativos: […]
Diz assim a Constituição Dogmática Lumen gentium, no número 56: “Ao aceitar a mensagem divina, Maria, filha de Adão, tornou-Se Mãe de Jesus e, abraçando de todo coração e sem qualquer torpor de pecado a vontade salvífica de Deus, consagrou-Se totalmente, como escrava do Senhor, à pessoa e à obra de seu Filho, servindo com diligência ao mistério da Redenção com Ele e subordinada a Ele, pela graça de Deus onipotente. Com razão, pois, julgam os Santos Padres que Maria não foi mero instrumento passivo nas mãos de Deus, mas cooperou com livre fé e obediência para a salvação dos homens. Como disse Santo Irineu, ‘obedecendo, tornou-Se causa de salvação para Si mesma e para todo o gênero humano’”
“Concebendo, gerando e alimentando a Cristo, apresentando-O ao Pai no Templo, padecendo com Ele quando morria na Cruz, cooperou de modo inteiramente singular, com a sua Fé, esperança e ardente caridade, na obra do Salvador para restaurar nas almas a vida sobrenatural. Por isso é nossa Mãe na ordem da graça” (Lumen gentium, n.61).”
Fonte: Vatican News
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] SÃO JOÃO PAULO II. Redemptoris Mater, n.39-40.