A liturgia, celebração da Páscoa

"A última Ceia" - Juan de Juanes (Vicent Joan Macip) em Wikimedia Commons

Já vimos que em toda celebração temos três elementos que a constituem: o fato valorizado ou páscoa, a expressão significativa do fato valorizado ou o rito, e a intercomunhão solidária ou a participação no mistério. Queremos agora aprofundar o que se celebra, isto é, a páscoa, a Páscoa de Cristo e a páscoa dos cristãos ou a páscoa dos cristãos na Páscoa de Cristo. Temos, portanto, a páscoa-fato e a páscoa vivida no rito.

A páscoa-fato no Antigo Testamento: Para compreendermos o que é a páscoa, é bom a gente recorrer à experiência religiosa do Povo de Israel no Antigo Testamento. A páscoa é o acontecimento central da história do povo de Israel. Temos uma páscoa-fato, o acontecimento histórico, e uma páscoa-rito, ou a celebração da páscoa através do rito, comemorando a Páscoa-fato.

O povo eleito viveu um acontecimento muito importante, ou seja, uma passagem, a páscoa que vem descrita no livro do Êxodo. Deus passa e o povo passa pela ação de Deus. Esta passagem do povo vai desde a libertação do Egito até a posse da Terra prometida, onde corre leite e mel.

O povo passa da escravidão para a liberdade, da morte para a vida, de não-povo, a povo da aliança. Esta passagem de Deus e do povo, pela ação de Deus, tem dois pontos altos, que podemos chamar de páscoa da libertação e páscoa da Aliança. Deus passa libertando o povo da escravidão do Egito, fazendo-o atravessar o mar Vermelho, guiando-o pelo deserto, fazendo-o atravessar o rio Jordão e tomar posse da terra prometida. O outro ponto alto da passagem de Deus é a Aliança aos pés do monte Sinai.

A páscoa-rito no Antigo Testamento:– Cada ano, cada semana e cada dia, o povo comemora esta passagem libertadora e de aliança e dela participa. Anualmente, pela ceia pascal, cada semana, através da celebração da Palavra nas sinagogas aos sábados, e cada dia, através do louvor vespertino e do louvor matutino, ação de graças pelos benefícios de Deus na história do povo, sobretudo pela páscoa da libertação e a páscoa da Aliança.

A Páscoa-fato no Novo Testamento: – Também no Novo Testamento temos uma páscoa-fato e uma páscoa-rito, a verdadeira Páscoa. A Páscoa-fato é Jesus Cristo que, pelo mistério da Encarnação, deixou o Pai e veio a este mundo e deixou este mundo voltando para o Pai. O ponto alto dessa passagem é sua morte, ressurreição e ascensão aos céus. Por esta passagem, Cristo realizou a Obra da Salvação e estabeleceu a nova e eterna Aliança. Libertou a humanidade do pecado e da morte e mereceu-nos nova vida. Esta obra da salvação é chamada de Mistério pascal.

A Páscoa-rito no Novo Testamento: – Cristo realizou esta Obra da Salvação uma vez para sempre. Mas, ele confiou esta Obra aos Apóstolos e à Igreja para que todos que nele cressem e o seguissem pudessem participar dessa Obra. Uma maneira de tornar a Obra da Salvação presente e dela participar é a comemoração deste fato pascal salvador e de glorificação de Deus através de ritos, ou das celebrações. São as celebrações da Igreja, sobretudo, os sacramentos, tendo como início o Batismo e centro, a Eucaristia. É a páscoa-rito, a salvação de Deus por Cristo e em Cristo vivida através dos ritos que chamamos de mistérios do culto.

Nestas comemorações da Páscoa de Cristo realiza-se aquela comunhão de vida no amor entre Deus e a humanidade que chamamos de mistério. Atualiza-se para nós por Cristo e em Cristo, a Obra da Salvação e da glorificação de Deus, os dois movimentos da ação litúrgica.

Fonte: Franciscanos – Especial Gotas de Liturgia /Frei Alberto Beckhäuser.

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