Toda a Liturgia é simbólica, é sacramental. Claro que devemos compreender o símbolo no seu sentido real como a mesma realidade num outro modo de ser, elementos, objetos e ações que, ao mesmo tempo, contêm, ocultam, revelam e comunicam o mistério ou como a linguagem ou comunicação do mistério. Sendo o mistério a comunhão divino-humana, onde Deus e o ser humano se encontram no amor, ou os seres humanos vivem em comunhão de amor em Deus.
Assim em toda a Missa entramos em comunhão com o mistério, toda a Missa constitui oração, desde o sinal da cruz de abertura até o graças a Deus final. A própria palavra é símbolo e particularmente a Palavra de Deus na celebração. Ela evoca e torna presente o mistério celebrado; por ela a Igreja faz memória de Jesus Cristo. É oração.
Lembro, porém, que restringimos a linguagem simbólica por demais às palavras, o canto e as orações. Símbolos mais fortes do que a palavra dos cantos e orações são os gestos, as ações, os ritos. Um gesto ou ação pode constituir um rito simbólico como, por exemplo, o sinal da cruz, ou a bênção. Depois, temos os ritos formados por vários símbolos como os ritos de entrada, a Liturgia da Palavra, o liturgia eucarística e os ritos finais. Falamos também em ritos de apresentação dos dons, o rito da consagração, pela Oração eucarística, o rito de comunhão. Finalmente, podemos dizer que a Celebração Eucarística como um todo pode ser chamada Rito da Missa. Por isso, não tem sentido dizer: Celebrar com símbolos, pois toda a Missa é celebrada com símbolos.
O mistério é comemorado não só através de palavras. A comunhão com Deus na Liturgia, através da memória da Obra da Salvação de Cristo Jesus, se realiza através de todos os sentidos. A Assembleia celebra de corpo inteiro. A comunicação com Deus por Cristo e em Cristo se faz através do ouvido, da vista, do olfato, do paladar e do tato, abrangendo todas as faculdades da pessoa, a inteligência, a vontade e o sentimento. Rezamos com todos os sentidos.
Assim, o primeiro símbolo ou rito da Liturgia é encontrar-se, é formar assembleia celebrante. Convocados pela Palavra de Deus e a fé, ao reunir-se, a assembleia já está comemorando o mistério da Igreja, do Corpo de Cristo formado de muitos membros. A assembleia já constitui um símbolo, um rito comemorativo. Depois, temos a Palavra de Deus e da Igreja. Não podemos esquecer os elementos da natureza usados como linguagem simbólica na Liturgia. Temos objetos como símbolos na Liturgia. Importantes são os gestos, as ações, as posturas do corpo e os movimentos. Tudo se faz oração, tudo se torna comemoração dos mistérios de Cristo, realizando a comunhão com o mistério, comunhão com Deus Pai, por Cristo, no Espírito Santo. As vestes sagradas falam do Sagrado, de Deus e das coisas divinas. Igualmente, a arte do som, a música e o canto. Além disso, temos a arte da cor expressa na pintura, na escultura, na decoração do espaço e no próprio espaço celebrativo, a igreja como lugar de celebração dos mistérios. Inclui-se ainda o tempo como experiência pascal. Temos, então, o tempo da Liturgia que abarca todo o tempo, o passado, o presente e o futuro, e a Liturgia celebrada no tempo; no tempo da vida, os sacramentos, no ciclo do tempo solar, o Ano litúrgico, no ciclo do tempo com suas fases, formando as semanas, o Domingo, o Dia do Senhor ressuscitado e na experiência do tempo diário da noite e do dia, das trevas e da luz, onde temos sobretudo a Liturgia das Horas. A Eucaristia que celebra todo o mistério pode estar presente e ser expressão de todas as experiências do tempo.
Fonte: Franciscanos – Especial Gotas de Liturgia /Frei Alberto Beckhäuser