A importância da oração mental

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Por Dom Antonio de Assis Ribeiro, SDB
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém

 

Observamos com frequência a existência de muito barulho nos templos e na experiência de oração comunitária, mas também na prática da oração pessoal. Muitas vezes, não só constatamos o barulho e a gritaria, mas também a movimentação delirante dos orantes que chega a incomodar passantes e, sobretudo, os vizinhos.

Na oração pessoal muitas pessoas não conseguem orar em silêncio! Por outro lado, na Igreja Católica, os fiéis foram habituados, desde a infância, tradicionalmente, à compreensão da oração como a repetição de fórmulas decoradas e, muitas pessoas, se acostumaram à reza mecânica.

Quando éramos crianças começamos a comunicação com os nossos pais repetindo palavras que eles nos ensinaram. Mas aos poucos, fomos aprendendo a dialogar espontaneamente. Às vezes, em nossos templos, encontramos fiéis falando baixinho, cochichando com Deus, mas mesmo com essa discrição, atrapalham o outro na sua oração. Isso revela a dificuldade da experiência da oração como diálogo íntimo e silencioso com Deus. Há a necessidade de apresentar aos fiéis a importância da oração mental.  Deus nos fala ao coração (cf. Sl 27,8; Os 2,14).

  1. Três expressões de oração

A tradição da Igreja reconhece três expressões de oração: oração vocal, a oração mental (meditação) e a oração contemplativa (cf. CIC, 2699). A oração vocal é aquela que se expressa através dos lábios, da voz, de palavras podendo ser pessoal ou comunitária. A oração que é diálogo com Deus, é mistério; pode ser também uma comunicação através do silêncio e do recolhimento interior porque Deus habita o nosso coração, e com ele nos comunicamos mentalmente. Estamos falando da oração mental ou meditação orante. É importante considerar o fato de que, nem toda meditação significa oração.

A oração é essencialmente mental, porque trata-se de uma experiência que pressupõe necessariamente o concurso da inteligência. Sem a participação da nossa mente não é possível entrarmos em oração, seja ela vocal pessoal, comunitária ou meditativa. Dessa forma, quem não tem o mínimo de saúde mental não é capaz de oração. Do diálogo com Deus participa a totalidade do nosso ser: razão, consciência, vontade, liberdade, sentimentos etc.

A oração não é feita somente de palavras (pessoal e comunitária), mas sobretudo de pensamentos. Sem a experiência da sintonia da mente do fiel com o mistério de Deus invisível, não há oração. A oração é a experiência de conversa misteriosa porque transcende os parâmetros da comunicação entre os sujeitos humanos. Por exemplo, nos comunicamos através de palavras, gestos e atitudes, mas não através do pensamento. Mas a comunicação com Deus vai além dessas formas e ainda através do pensamento e dos sentimentos sem expressões visíveis.

  1. Características da oração mental

A oração mental é silenciosa, é diálogo íntimo com Deus sem manifestações externas de palavras e nem gestos. Não se trata de puro silêncio, mas de um diálogo interior (espiritual) que não se expressa exteriormente. A oração mental não se identifica com concentração, mas esta é naturalmente uma condição importante para que a meditação orante possa acontecer.

Além de diálogo íntimo com Deus, a oração mental é também busca de aprofundamento da Palavra de Deus. A fonte mais preciosa da oração mental é a Palavra de Deus como bem assinala o Salmo 119: “Vou meditar os teus preceitos e considerar os teus caminhos” (v.15); “Eu me delicio com a tua vontade e não me esqueço da tua palavra” (v.16); “Faze-me entender o caminho dos teus preceitos, e eu meditarei sobre as tuas maravilhas” (v.27); “Quanto eu amo a tua vontade! Eu medito nela o dia todo” (v.97); “Sou mais sábio que todos os meus mestres, porque medito em teus testemunhos” (v.99); “Meus olhos antecipam as vigílias, para meditar a tua promessa” (v.148).

A oração mental é experiência de entretenimento com a Palavra de Deus buscando a compreensão do seu conteúdo, colhendo suas inspirações e fazendo confronto com a vida. “Passamos dos pensamentos à realidade. Conduzidos pela humildade e pela fé, descobrimos os movimentos que agitam o coração e podemos discerni-los. Trata-se de fazer a verdade para se chegar à luz: “Senhor, que queres que eu faça?” (CIC, 2706). Dessa forma, como bem afirma o Catecismo da Igreja Católica, “a meditação mobiliza o pensamento, a imaginação, a emoção e o desejo. Essa mobilização é necessária para aprofundar as convicções de fé, suscitar a conversão do coração e fortificar a vontade de seguir a Cristo” (CIC, 2708).

  1. Exigências e frutos da meditação

A oração exige autodisciplina, foco, envolvimento, mergulho na intimidade do relacionamento com Deus. O foco no objeto da meditação orante requer exercícios de combate às fantasias que muito nos tentam ao desvio da nossa mente. Por isso, a oração requer o exercício da vontade e da perseverança.

Isso demanda tempo reservado que contribui para o fortalecimento da vida espiritual. É mais ou menos como o que acontece com a relação de amizade entre as pessoas; se não houver dedicação de tempo para estar juntas, conversar aprofundando questões de interesse comum, compartilhar fatos, ideias, sentimentos e sonhos, dificilmente poderão crescer no conhecimento recíproco, fortalecer a experiência da amizade e se ajudar mutuamente.

Muitas vezes a esterilidade da experiência da oração é consequência da pressa e da superficialidade dos momentos orantes. O ativismo e o formalismo promovem a superficialidade espiritual, porque não reservam o tempo disponível para o mergulho contemplativo nas realidades espirituais. Por isso diz o Senhor pelo profeta: “sou eu que conheço os planos que tenho para vocês; planos de fazê-los prosperar e não de causar dano, planos de dar a vocês esperança e um futuro” (Jr 29,11). O objetivo fundamental da meditação é o aprofundamento, compreensão e a prática da vontade de Deus. “A oração é a entrega humilde e pobre à vontade amorosa do Pai, em união cada vez mais profunda com seu Filho bem-amado” (CIC, 2712).

Além do crescimento espiritual e do fortalecimento na prática das virtudes que brotam da fé, como ser mais capaz de perdão, misericórdia, generosidade, sacrifício, a oração mental também proporciona ao sujeito um grande ganho humano, porque a meditação contribui para a saúde mental, física e socioafetiva proporcionando ao fiel a paz, a calma, a paciência, serenidade, firmeza de ânimo, mais consciência de si mesmo com seus recursos e fragilidades, atenção fraterna, abertura ao discernimento, progresso na organização da própria hierarquia de valores e de preocupações.  A meditação contribui para o crescimento na consciência da responsabilidade pessoal no processo de amadurecimento espiritual.

A perseverança no caminho da sabedoria é consequência da fidelidade na meditação da Palavra de Deus (cf. Sl 1,1-2). O Eclesiástico também afirma algo semelhante sobre a experiência da sabedoria: “Feliz o homem que se dedica à sabedoria, que reflete com inteligência, que medita no coração sobre os caminhos da sabedoria e com a mente penetra os segredos dela” (Eclo 14,20-21).  A ida ao templo toma mais consistência quando nos dedicamos à oração orante, por isso afirma o salmista: “Ó Deus, nós meditamos o teu amor no meio do teu templo” (Sl 48,18). Logo, sem a experiência da meditação na oração, corremos o perigo de sair com a mente vazia após o barulho das eufóricas orações comunitárias.

O Eclesiástico ainda insiste sobre a importância da meditação orante; quem se propõe  a perscrutar os mistérios divinos e à Lei do Altíssimo, investiga a Sabedoria, se dedica ao estudo das profecias, busca o sentido oculto dos provérbios e parábolas, dirige ao Senhor o seu coração, suplica perdão por seus pecados, fica repleto do espírito de inteligência, será guiado pelo dom do conselho e da ciência (cf. Eclo 39,1-7). Esse texto nos fala da importância, da beleza, eficácia e do significado da oração mental.

Enfim, a experiência da oração mental, nos ajuda a fortalecer o sentido da nossa vida porque contribui para robustecer a nossa dimensão espiritual. Dessa forma nos capacita para o enfrentamento das adversidades, nos torna capazes de estar alertas na gestão das nossas fragilidades e nos educa para a resiliência.

PARA A REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Quais são as consequências da oração mecânica?
  2. O que significa afirmar que a oração, seja como for, pressupõe a participação da nossa mente?
  3. Quais são as condições fundamentais para a experiência da meditação orante?

Fonte: CNBB Norte2

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