Relatório do Sínodo Digital que foi realizado com 244 influenciadores de todo o mundo.
Queremos levar a “escuta sinodal” aos espaços digitais para que ninguém seja excluído desta “carícia da Igreja”: esse o pensamento dos organizadores do Sínodo Digital.
“Foi verdadeiramente uma Graça de Deus, muito importante, que mostra a necessidade de a Igreja cuidar cada vez mais do Continente Digital com uma Pastoral Digital organizada e sistemática, a fim de apoiar os Missionários Digitais.
“Nos primeiros tempos da Igreja, os Apóstolos e os seus discípulos levaram a Boa Nova de Jesus ao mundo greco-romano: como no então a evangelização, para que fosse frutuosa, requereu uma atenta compreensão da cultura e dos costumes daqueles povos pagãos, com o intuito de tocar as suas mentes e corações, assim também, agora, o anúncio de Cristo no mundo das novas tecnologias supõe um conhecimento profundo das mesmas para chegar assim a sua conveniente utilização.”
“A Igreja «em saída» é a comunidade de discípulos missionários que «primeireiam», que se envolvem, que acompanham, que frutificam e festejam. Primeireiam – desculpai o neologismo –, A comunidade missionária experimenta que o Senhor tomou a iniciativa, precedeu-a no amor (cf. 1 Jo 4, 10), e, por isso, ela sabe ir à frente, sabe tomar a iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos. Vive um desejo inexaurível de oferecer misericórdia, fruto de ter experimentado a misericórdia infinita do Pai e a sua força difusiva.”ii.
Parte I: INTRODUÇÃO
ORIGEM E PROCESSO:
Origem: É a convocatória do Papa para o Sínodo sobre a Sinodalidade. O antigo projeto RIIALiii acolheu este chamado e propôs a iniciativa “A Igreja te escuta” à Secretaria Geral, sobre as seguintes consignas do Papa Francisco “Igreja em saída” e “alcançando as periferias existenciais”, levando o Sínodo ao Continente Digital (espaços e cultura digitais), para que ninguém seja excluído. Desenvolvimento: Com espírito de comunhão, a iMissióniv somou-se à iniciativa desde o início e, com grande surpresa aderiram ao projeto mais de 100 instituições e redes que evangelizam o mundo digital. A metodologia foi iniciada pelo grupo de inteligência Colaborativa Delibera, e cresceu com contribuições várias numa dinâmica colaborativa. Uma pequena comunidade original de animação e coordenação impulsionou o projeto, que evolucionou, chegando a contar com 6 equipes para dinamizar várias comunidades em diferentes idiomas e culturas, com 4 sistemas (Delibera, Qwary, Google, Dooblo). Dimensão: É um projeto “seminal”, incipiente e inicial. Os resultados não são absolutos devido à brevidade da experiência, no entanto, tem sido suficiente pois a abertura desta porta nos permitiu ver que o Continente Digitalv existe, e que deve ser acompanhado. Além do mais, o valor do projeto está no fato de mostrar a existência e o desenvolvimento da vida eclesial nesta nova realidade. Especificidade: Muitas realidades eclesiais utilizaram os recursos da Internet, contribuindo com os processos sinodais institucionais. A originalidade da proposta de realizar o Sínodo nos “ambientes digitais” não está no uso de instrumentos digitais, mas na valorização dos espaços digitais como “locus” habitados por pessoas de forma natural e adequada, olhando para a sua realidade a partir da sua própria cultura. Nem sempre participam de modo presencial na vida institucional da Igreja. Alcance: – Tempo de implementação: 2,5 meses – Idiomas cobertos: 7 (inglês, espanhol, francês, português, italiano, malabar, tagalog) – Países que preencheram o questionário: 115 – Redes e instituições envolvidas: mais de 100 – Influenciadores que aderiram: 244 – Questionários preenchidos: 110.000 – Propostas para o Sínodo: 150.000 – Pessoas alcançadas (potencial de alcance)vi sobre o sínodo: 20.000.000 Processo: Um Sínodo eclesial é um processo de caminhar juntos em comunhão, participação e missão. A fim de melhor compreender a particularidade do processo na cultura Continente Digital, distinguimos os seguintes atores e ações: – Influenciadores/evangelizadores digitais: Testemunhas que anunciam, escutam (Igreja em saída) e acompanham (Igreja Samaritanavii) com originalidade e criatividade com a linguagem e a técnica próprias deste âmbito. (Sobre o uso do término “Influenciador” ver notaviii) – Seguidores: São os habitantes do espaço digital, necessitados de respostas às questões existenciais de fé, que buscam uma comunidade à qual pertencer, que querem falar e ser ouvidos (“Habitantes” significa que eles concentram principalmente ali a sua atividade de fé). – Processo Sinodal Digital: Convocação, Catequese, Envio Missionário, Animação e Coordenação, Consulta, Coleta e Análise de dados, Propostas para o Sínodo.
CHAVES DE COMPREENSÃO DO PROCESSO
O Processo Sinodal Digital é apresentado em binômios chaves (palavras-chave): quatro orientados às Pessoas e quatro destinados ao Ambiente Digital
As pessoas:
1- Laicado e corresponsabilidade: Descoberta dos influenciadores/missionários digitais com perspectiva do Vaticano II, como verdadeiros evangelizadores, corresponsáveis pela ação na Igreja e no mundo, de acordo com a identidade e a missão própria de batizados, discípulos missionários. Além da grande presença de sacerdotes, religiosos e pessoas consagradas, a presença de leigos imbuídos de autêntica audácia missionária e criatividade faz transbordar as redes. Eles amam Jesus e conhecem o mundo.
2- Caráter missionário e acompanhamento: Devido a seu caráter missionário, o projeto se propôs a realizar o chamado de ser uma Igreja que sai às periferias existenciais para que ninguém seja excluído do processo sinodal de escuta. A modalidade de evangelização nas redes manifestou uma verdadeira relação humana e cristã entre os influenciadores/evangelizadores digitais e os seguidores. Esta relação gerou uma interatividade entre a proclamação, a busca da fé e o acompanhamento. Ela evocou, convocou e acompanhou a busca.
3- Contatos e vínculos: existem dois tipos de relacionamentos, o dos evangelizadores digitais com seus seguidores, e o dos influenciadores/evangelizadores digitais entre si. Com relação ao primeiro, observou-se que os evangelizadores fortaleceram e aumentaram o conhecimento e os vínculos nas suas comunidades. Em relação ao segundo, as relações foram estendidas para além dos seus círculos conhecidos, alcançando uma união em rede mais comunitária, oferecendo a possibilidade de sentir-se como uma comunidade eclesial, acompanhada e participando da vida missionária de toda a Igreja.
4- Solidão e comunhão: Os influenciadores/evangelizadores digitais expressaram a necessidade de serem ouvidos, acompanhados, ajudados, reconhecidos e integrados. Eles se descobriram como uma comunidade na Igreja Universal, aberta ao intercâmbio e ao suporte mútuos. As pessoas se sentiram chamadas, chamaram a outros, receberam a proposta e geraram processos, tornaram-se cocriadoras do projeto e se envolveram. A celebração do envio missionário marcou a espiritualidade e a sua identidade. Influenciadores e seguidores expressaram um profundo apreço pelo processo sinodal.
O Ambiente Digital:
1- Instrumento e lugar: a tecnologia digital foi originalmente entendida e utilizada como um instrumento de promoção e comunicação. O seu desenvolvimento e implantação social, geraram um novo espaço humano. A perspectiva de conceber esta nova cultura a partir da noção do Continente Digital consiste em incorporar o conceito de ser um “lugar” (locus) que deve ser habitado, e com a visão dos nativos digitais. Não basta utilizar a rede, ela deve ser compreendida, deve ser habitada, com sua linguagem e sua dinâmica, porque o que não se assume não é redimido.
2- Humanos e sobrenaturais: nas relações e atividades que ocorrem na rede, houve uma consciência da humanidade e do sentido sobrenatural que pode ser estabelecido nestes vínculos. Porque sempre que um vínculo é estabelecido entre as pessoas, há sempre um “eu” e um “você”, e isto também é verdade nos espaços digitais. As experiências, visíveis na pandemia, mostram até que ponto, existindo uma intenção, sucede um evento que nos abre ao espiritual.
3- Real e digital: As pessoas, os tempos, os afetos, a fé, as relações são sempre reais, o que é digital é o meio e o lugar usado para estabelecer vínculos e poder interagir à distância. A interatividade é mediada pelo digital, que não anula, mas que é, além disso, um meio de relacionamentos e experiências verdadeiras.
4- Instituição e carisma: A experiência Sinodal nos permitiu compreender que os influenciadores digitais atuavam, com criatividade e coragem, evangelizando, cada um com seu próprio carisma, sem um marco institucional formal, inovando e antecipando uma pastoral no ambiente digital. O desejo e a necessidade de estabelecer uma relação formal e recíproca com a instituição eclesial foi manifestado, tanto para ser reconhecido e acompanhado como para contribuir para a vida institucional a partir do que é próprio da cultura comunicacional e digital.
Parte II: CORPO DA SÍNTESE
1. Os protagonistas:
a. Influenciadores/Evangelizadores Digitais
Os evangelizadores digitais estão fazendo uma verdadeira missão no “mundo”, onde há muitas pessoas que não conhecem a Deus, mas estão à procura de respostas para as questões existenciais. Dos 244 que conseguimos alcançar, numa missão compartilhada, 27% são sacerdotes; há também religiosas 10% e 63% são catequistas e leigos comprometidos, com estilos e sensibilidades eclesiásticas variadas. O contato com os Influenciadores/evangelizadores foi de acordo com a “modalidade apostólica”, cada um apresentou a outro, o que foi um fator que garantiu o caráter eclesial. Estes Influenciadores/missionários digitais possuem um alcance potencial de aproximadamente 20 milhões de seguidores. A estes Influenciadores/evangelizadores foi proposto o projeto “A Igreja te escuta” para realizar o processo de “escuta digital” em suas próprias redes e comunidades (Instagram, Tik-Tok, Youtube, Facebook, Twitter, WhatsApp, Mail), seguindo seus tempos, modalidades e carismas. Os seus seguidores aderem às suas formas de apresentar o Evangelho e entender a realidade. As redes se mostram como um importante canal de comunicação bidirecional, chegando ali, no lugar e no tempo onde as pessoas estão, especialmente aos “periféricos”.
b. O Povo de Deus que participou
Além dos batizados e fiéis praticantes, é significativa a participação de pessoas afastadas, não praticantes, agnósticos e ateus que seguem a estes evangelizadores e que quiseram responder ao chamado para participar deste projeto. Nos espaços digitais, encontramos pessoas feridas que manifestam assuas questões existenciais, vivendo numa situação de periferia e alienação e em várias situações de fé. Mulheres e homens de diferentes idades que esperam, às vezes sem saber, a proclamação da salvação. 58% dos entrevistados têm menos de 40 anos e 84% tiveram um encontro pessoal com Deus. 66% vão à Missa, dos quais 1 de cada 3 seguem a um influenciador/evangelizador digital católico, com o qual busca interagir e aprofundar. Os seguidores dos influenciadores católicos digitais católicos alcançados por esta iniciativa são uma amostra representativa do Povo de Deus, particularmente os jovens. Muitos deles são “apenas digitais”, ou seja, não participam de atividades presenciais da Igreja.
Em termos de sua relação com a fé católica, encontramos três segmentos principais:
– Fiéis praticantes (50%): fiéis ativos, comprometidos e satisfeitos com a Igreja e com a fé católica. Alguns deles admitem que gostariam de estar mais próximos, mas não encontram tempo ou meios para poder participar mais de acordo com seus desejos. Neste grupo, destacam-se as pessoas mais velhas. Sem dúvida, este é um grupo com um alto nível de lealdade à Igreja e um desejo de ser ainda mais integrado. Talvez seja por isso que eles seguem os influenciadores/evangelizadores digitais católicos: querem aprofundar, através da escuta e de um diálogo tranquilo, que dificilmente pode ocorrer em realidades presenciais.
– Católicos distantes (40%): são fiéis que participaram em algum momento, mas se afastaram ou sua fé esfriou, seja por causa das decisões da Igreja ou por falta de interesse. A maioria deles concorda que gostaria de estar mais perto da Igreja, mas se sentem excluídos. A este grupo podem acrescentar-se aqueles que indicam que se aproximam da instituição em momentos de necessidade 7 para pedir ou agradecer. Se nada for feito para acolher este grupo, este se afastará cada vez mais, sem necessariamente romper com a fé.
– Aqueles que já se afastaram, os agnósticos e ateus (10%): este é um grupo minoritário e no outro extremo. Eles não estão mais interessados em se aproximar da Igreja Católica como instituição e preferem participar com de organizações religiosas e filantrópicas, mas são atraídos por influenciadores com os quais entram em maior sintonia com as suas mensagens, mais próximas, e pelos quais se sentem acolhidos e não julgados.
– Índice de satisfação: A escuta digital nos mostrou um relacionamento morno de muitos católicos com a Igreja neste momento. Menos da metade (41%) estão muito satisfeitos com seu relacionamento com a Igreja Católica/religião, e 59% estão um pouco, não muito ou nada satisfeitos. Entre as razões expressadas para a saída das pessoas, a principal razão são os escândalos de pedofilia e de corrupção na Igreja. Em segundo lugar, porque a Igreja não responde às suas preocupações e prioridades; outros porque se sentem julgados por ela. Há também a falta de compreensão com as pessoas que fazem parte dela e o peso de outras religiões e seus atrativos. Além disso, 81% pensam que a Igreja precisa empreender uma grande renovação e 32% pensam que se não o fizer rapidamente, será difícil permanecer nela. São muitas as pessoas afastadasferidas ou excluídas que também expressaram sua gratidão por esta escuta.
2. A metodología:
Para realizar o projeto, trabalhamos com a metodologia e os elementos que facilitam a comunicação bidimensional. Por ser assíncrona e sem limites de espaço e tempo, favorece-se a escuta e o diálogo de qualidade. Cada pessoa pode expressar o que deseja sem ser interrompida, e recolher opiniões de influenciadores/evangelizadores digitais e de outras pessoas. Em geral, verifica-se que eles fazem mais do que apenas ler, eles se expõem deixando seus comentários. Além disso, a rede permite a distribuição de conteúdo audiovisual/multimídia de alto impacto, combinando a dimensão racional com a emocional, amplificando a força e o alcance da mensagem. Não se trata apenas de alcançar, mas também de como alcançar.
A metodologia está resumida a seguir:
a. Perguntas de questionário em profundidade: 2 versões: 35 e 18 perguntas, dependendo da comunidade e do sistema utilizado.
b. Ações e perguntas concretas dos Influenciadores / evangelizadores digitais em suas redes: perguntas profundas com vários comentários e algumas em texto livre.
c. Análise das conversas: publicações dos influenciadores/evangelizadores digitais selecionadas a partir do seu impacto, com temas centrais para o Sínodo.
3. Análise da escuta
Combinando as três fontes mencionadas acima, surgiram 5 conclusões transversais, e 4 eixos nos quais é necessária uma renovação da Igreja, com pesos diferentes cada um:
a . Descobertas transversais
Em sintonia com o Papa: em geral, 67% dos habitantes católicos dos “espaços digitais” consultados querem mudanças como as foram propostas pelo Papa; 24% são neutros em relação às propostas do Papa, e 9% são divergentes ou abertamente opostos, na linha de um retorno decisivo à tradição pré-conciliar.
Aqueles afastados da Igreja: Entre os diferentes tipos daqueles distantes da Igreja, o principal problema são os 26% de crentes não praticantes, muitos deles por terem sido julgados e não acolhidos pela Igreja, 2,5 vezes mais numerosos do que os agnósticos e ateus.
Experiência de Deus: 84% dos entrevistados que seguem evangelizadores católicos nas redes sociais dizem ter tido um encontro pessoal com Deus.
Referência eclesial: Para 2/3 das pessoas, o relacionamento com a Igreja é estabelecido através de amigos praticantes.
Interpretações em tensão: Os debates sobre o exercício da sexualidade (separados/divorciados, casais em segunda união, pessoas com atração ao mesmo sexo etc.) provocam intensos conflitos entre os católicos originando diferentes interpretações.
b. Áreas nas quais uma renovação da Igreja é necessária
Das 150.000 propostas do Povo de Deus, surgem quatro eixos temáticos, expressados sob a forma de pedidos, porque assim foi manifestado pelos participantes, e que foram repetidos em distintas proporções. Cada porcentagem expressa o grau de adesão – porcentagem de pessoas que o mencionaram – em cada um dos eixos.
Este “mosaico” é eloquente e, no seu interior, são colocadas as expressões do Povo de Deus com as quais eles comentaram ou responderam à pergunta aberta sobre o que eles sugeriam à Igreja para estar mais perto de todos. Eles expressam, de forma tocante, por sua sinceridade e profundidade, um anseio por uma Igreja santa e acolhedora, que revele Jesus Cristo, que não condene nem se deixe guiar pelas aparências. Que seja nítida ao oferecer a novidade do Evangelho.
No seguinte esquema, seguido da explicação de cada quadrante, representa-se e sintetiza-se aquilo que foi apurado nas propostas para uma renovação da Igreja.
I- Orientação diante de uma realidade confusa e em rápida evolução (26%)
O Povo de Deus está pedindo orientação diante de mudanças tão aceleradas. Muitas pessoas estão desconcertadas. Mas eles apontam, antes de mais nada, a Cristo como o modelo e fundamento da Igreja. A figura do Papa como uma grande referência. É constantemente repetida a petição para não julgar, especialmente, às pessoas em situações de união irregular, ou de diversa orientação sexual, defendendo a dignidade de cada pessoa, como o fez Jesus. Pede-se abordar as controvérsias importantes para a sociedade, com capacidade de diálogo e apontando a verdade de Cristo. O povo de Deus insta a falar e agir claramente diante daquilo que parece injustificável, como a pedofilia, os abusos sexuais, o desprezo pelas mulheres, a corrupção, etc.
II- Cristãos mais autênticos no seu comportamento para com os outros (17%).
O pedido de coerência é também importante. Expressa-se o valor do testemunho, do serviço aos pobres e necessitados, ponto essencial dos seguidores de Cristo. A solidariedade foi a característica mais apontada por todos os participantes, como uma característica distintiva da Igreja. Exige-se, ao mesmo tempo, o respeito à diversidade eclesial, pois existem diferentes maneiras de seguir a Jesus, sem azedume ou tentando impor seu próprio estilo. Isto implica viver de acordo com os ensinamentos de Jesus. O cuidado com o planeta é uma referência feita pelos mais jovens dentre os participantes.
III- Uma Igreja coerente e corajosa em suas estruturas, atitudes e modo de proceder (37%).
Deseja-se um novo perfil e uma nova atitude da parte dos sacerdotes e bispos, sendo mais próximos e mais abertos à participação, promovendo assim a missão dos leigos, especialmente das mulheres dentro da Igreja. Pede-se uma atitude de escuta e de diálogo com a sociedade, sem preconceitos, e saindo ao encontro dos diferentes grupos. Pede-se procurar aos jovens e àqueles que estão afastados, com meios apropriados para eles, especialmente os meios digitais. É necessária uma Igreja próxima, simples e humilde, não submetida aos poderes deste mundo.
IV- Facilitar o relacionamento pessoal e comunitário com Deus (20%).
Outorga-se um alto valor aos momentos de espiritualidade e aos espaços para o encontro com Deus, que deveriam serem multiplicados. Eles se sentem menos formados do que os fiéis de outras Igrejas. Há uma necessidade urgente de formação na fé, aproveitando, também, os meios digitais e integrando os influenciadores/evangelizadores digitais como um canal formativo de valor e futuro. Pedem-se Missas que iluminem e acompanhem a vida. Os participantes da consulta vão à Missa regularmente como uma escolha pessoal, não como uma obrigação, mas muitos deles consideram a missa cansativa. Deseja-se aprender a encontrar Deus nas demais pessoas, e se espera que esse encontro seja mais amplo e verdadeiro.
4. Reflexão sobre a “escuta”
No processo de sair e ouvir o mundo digital, as vozes de tantos homens e mulheres que “habitam” este ambiente foram coletadas. A escuta deu lugar ao diálogo e o diálogo levou ao discernimento comunitário e pastoral. No processo sinodal de “A Igreja te escuta”, detectamos nos participantes um desejo de Deus e de comunhão e de esforço por encontrar as palavras, os lugares, as situações para dizer, para dar, para pedir, para oferecer. Isto interroga e surpreende positivamente. Sobretudo o fato de que a maioria afirme que as perguntas sobre Deus chegam ao coração através da amizade.
Existe um fenômeno a ser notado: por que centenas de jovens adultos distantes respondem a perguntas sobre esta Igreja à qual que eles nem sequer consideram mais? Resulta-se ser, a partir da consulta, que é por amizade com aqueles que propõem, por estima àqueles que pedem, por empatia com o Papa Francisco, e por saudades de Deus, de uma comunidade à qual pertencer, de um sentido de vida que está desaparecendo na metamorfose social e digital.
Muitas respostas, permeadas de interesse e paixão, questionam profundamente, e trazem muitas críticas e sofrimentos. As experiências individuais dão um vislumbre de um sentimento generalizado que tende a ser negativo. As experiências pessoais são frequentemente percebidas como influenciadas por um sentimento comum que é duro para com a Igreja.
O digital incentivou e aproximou os que estavam “distantes”, que se sentiram protegidos pelo anonimato, sem constrangimentos, mais livres para falar; e ao mesmo tempo encorajou os que estavam “próximos” a ousarem. A web tornou possível alcançar os desdobramentos de tantas vidas do Povo de Deus, que se sentiam perdidas.
O digital, como cultura, como ponto de encontro, como meio de diálogo, como forma de educar e informar, tem se mostrado valioso durante este processo de escuta e consulta. Não há dúvida de que ela é apenas uma parte do todo, mas importante para a evangelização.
a. A fé do Povo de Deus no mundo digital
Como observado anteriormente, a maioria das pessoas consultadas viveram uma experiência de encontro pessoal com Deus. Entretanto, há um fato importante que tem atraído a atenção: alguns dos que se definem como “não-crentes”, mesmo sendo uma minoria, dizem que tiveram esta experiência de Deus. Apenas uma pequena parte diz não ter tido esta experiência.
Há um alto nível de afirmação de crença nos fundamentos da fé católica, enquanto, na minoria, prevalece a dúvida, ou seja, “eu acredito, mas não completamente”. Esta atitude se destaca mais fortemente entre os mais jovens.
Jesus Cristo como fundamento e inspiração que guia a vida de cada cristão se reflete fundamentalmente em ser mais solidário e na determinação de enfrentar os problemas e as injustiças da vida. Isto é visto mais fortemente nas pessoas mais velhas e nas mulheres. Também, e quase com o mesmo alto nível de adesão, eles dizem que a Mensagem de Jesus Cristo inspira suas decisões e atitude geral em relação à vida.
b. Participação na Igreja Católica
Dois terços dos participantes estão divididos entre a média e a baixa participação. Isto significa que esta consulta tem conseguido alcançar pessoas que não frequentam regularmente as atividades da Igreja. O outro terço dos entrevistados diz que sua participação na Igreja é alta ou muito alta.
Em termos de participação, prevalece a participação presencial, embora a participação digital tenha uma penetração significativa, e a participação mista está ganhando terreno. Entre as formas de participação, destacam-se: participação regular ou esporádica na missa, participação nos sacramentos e na oração; participação em atividades, grupos, movimentos, congregações, retiros, voluntariado etc. Muitos se sentem parte da Igreja sem participar de nenhuma atividade e outros que participam das atividades acima mencionadas frequentam redes sociais e/ou websites relacionados à Igreja.
A análise dos dados levanta as seguintes questões: O que fazem as pessoas que não são ativas na Igreja, que estão distantes ou sem fé, seguindo os evangelizadores influentes nas redes sociais? Encontram espaços e tempos em que podem se expressar, interlocutores para resolver dúvidas, procuram confirmar suas intuições, aproximar-se de um Deus que podem desejar de uma forma vaga? São os dados que nos levam a questionar-nos. Três dos oito atributos da Igreja tiveram que ser escolhidos, quatro dos quais eram positivos (solidários, participativos, próximos e inovadores) e quatro negativos (antigos, distantes, egoístas e autoritários). A maioria das menções é positiva, quanto menor o nível de educação formal, maior é a força das menções positivas. Em termos específicos, a qualidade da solidariedade se destaca – à distância do resto – seguida em importância por duas outras qualidades: participativa e próxima. O conjunto de menções negativas (antigas, distantes, egoístas e autoritárias) atinge a metade dos consultados, destacando-se os jovens e os não-crentes. Observa-se a seguinte correlação: quanto maior o nível de educação, mais altas as menções negativas.
c. Escuta/diálogo
Apenas um quarto da população reconhece que a Igreja “escuta/dialoga” muito com os vários grupos sociais. “Um pouco”, junto com “um pouco”, são os valores percentuais mais altos, enquanto aqueles que dizem que não ouvem/diálogos estão em minoria.
Parâmetros semelhantes foram obtidos quando perguntados se eles “se sentem ouvidos pelas pessoas da Igreja com as quais se relacionam”. Entre aqueles que optaram por afirmar que “ouvem/dialogam muito”, as mulheres se destacam. A medida em que as pessoas envelhecem, esta afirmação se torna mais evidente.
Vale notar que entre os não-crentes, uma alta porcentagem diz que a Igreja “escuta e dialoga muito” com seus fiéis. O “Eu não me relaciono com ninguém na Igreja”, embora seja uma minoria, é representado pelo grupo mais jovem.
As ações sugeridas para que a Igreja escute/diálogo mais são:
– Aumentar a consciência sobre a importância da escuta dentro da Igreja.
– Sacerdotes e religiosos devem dedicar mais tempo a escuta.
– Um quarto da população sugere dedicar mais pessoas e canais (redes etc.) à escuta.
Na análise do fato de “ter sido consultado por um representante da Igreja no ano passado”, um pouco mais da metade diz que eles não foram consultados por ninguém na Igreja. Mais uma vez, os mais jovens se destacam em sua maioria. Os mais velhos dizem que foram consultados, enquanto os de meia-idade estão igualmente divididos entre os que foram e os que não foram consultados.
As razões que tornam mais difícil a comunicação com a Igreja são variadas e provavelmente respondem à heterogeneidade da população. É importante notar que apenas 1/3 dos consultados disseram que não tiveram dificuldade em se comunicar com a Igreja.
d. Modo de caminhar juntos
Treze sugestões foram apresentadas nas consultas para que eles pudessem escolher três, que são mostradas aqui agrupadas de acordo com os grupos de importância:
– Encorajando a espiritualidade: silêncio, contemplação.
– Acompanhamento-atendimento: casais, famílias, pessoas separadas/divorciadas, em suas vidas e sexualidade; assistência aos pobres, migrantes, grupos LGBT, etnias originais, prisioneiros etc.
– Renovando-saindo-participando: atualizar sua maneira de educar em todos os níveis. Promover o voluntariado e as atividades com os jovens, a igualdade das mulheres na sociedade e na Igreja, envolver-se mais no mundo digital. Pontos de encontro com jornalistas e cientistas.
PARTE III: CONCLUSÕES
UMA PASTORAL DIGITAL: um caminho de comunhão, participação e missão no ambiente digital.
No processo de escuta e discernimento, a necessidade de ser acompanhado está presente de diferentes maneiras em todos os atores, tanto nos missionários digitais quanto em suas comunidades.
Para responder a esta necessidade, a proposta é que a Igreja tenha uma PASTORAL DIGITAL orgânica, sistemática e institucional.
Isto significa promover e desenvolver esta pastoral na Igreja de forma reconhecida e institucional para animar e coordenar a vida já existente de múltiplas ações evangelizadoras no “espaço digital”.
Entendemos que, como todo cuidado pastoral, requer o desenvolvimento da reflexão teológica e de um marco jurídico do Direito Canônico.
Como isso pode ser feito?
a. Comunhão
– Promover a Comunhão com o Papa e com as Igrejas Locais para que a Comunhão Eclesial possa sempre se manifestar.
– Aumentar a ligação entre os evangelizadores digitais, promovendo a rede/comunhão para que sejam reconhecidos, acompanhados, ajudados, formados e apoiados.
– Construir pontes de comunhão e colaboração entre o ambiente digital e o cuidado pastoral ordinário da Igreja (espaços presenciais) a serviço das pessoas, promovendo o conhecimento e a valorização mútua.
b. Participação
– Promover a ação carismática dos influenciadores/evangelizadores digitais na evangelização, em um diálogo bidirecional, a fim de gerar um diálogo autêntico.
– Gerar espaços de participação onde as realidades presenciais e digitais possam entrar em sinergia para melhor evangelizar a cultura contemporânea.
c. Missão
– Convocar e enviar Influenciadores/evangelizadores, como é feito com catequistas, para que eles se tornem e se sintam parte do Corpo e da Missão da Igreja.
– Gerar e desenvolver, na esfera digital (aproveitando os novos formatos e idiomas multimídia e interativos), uma missão ampla, plural e capilar para alcançar as “periferias existenciais” que necessitam do Bom Samaritano.
No processo de escuta e discernimento, a necessidade de ser acompanhado se reflete transversalmente e está presente de diferentes maneiras em todos os atores, tanto nos missionários digitais quanto em suas comunidades.
Reflexão Conclusiva
A escuta digital mostra as necessidades pastorais deste novo ambiente humano e de fé, específico de nossa cultura, que é digital e técnica, mas que reflete, impacta e configura toda a cultura contemporânea.
A missão nos espaços digitais nasceu, desde o início desta nova cultura, de forma natural e espontânea, do ardor missionário dos evangelizadores-influenciadores que, encontrando novos ambientes de evangelização, com coragem e criatividade, colocaram seus carismas para levar o Senhor a estes novos horizontes, fazendo eco ao que disseram os Apóstolos, e que é vivido por todo o Povo de Deus: “Não podemos calar o que vimos e ouvimos” (Atos 4, 20).
Eles começaram, como em todo caminho missionário e evangelizador, um processo de escuta e contemplação da realidade das pessoas que, também de modo espontâneo, começaram a seguilos, reconhecendo neles, mesmo sem institucionalização, a voz do Pastor que alimenta sua fé e os ajuda em suas vidas. Eles estão respondendo às necessidades das pessoas nas redes sociais, de todas as formas e canais oferecidos pela cultura digital, ajudando-os em suas vidas e em sua fé, de inúmeras maneiras.
A missão nos espaços digitais, longe de ser contrária à participação e assistência presencial, tem incentivado e, em muitos casos, tornado possível, na medida em que, através do trabalho destes “missionários digitais”, verificou-se que há também aqueles que pedem o batismo, assim como aqueles que perseveram e aprofundam sua vida espiritual e apostólica, vivendo como Igreja também com a ajuda destes espaços. Porque a missão não é uma alternativa à vida da Igreja, mas faz parte de sua vida, na dinâmica de “ir” aonde as pessoas estão, a fim de aproximá-las do Senhor, no tempo de Deus e no tempo de cada pessoa que é respeitada. A “missão digital” é, portanto, parte do fluxo da “Igreja em saída” para alcançar “as periferias existenciais”, não para ficar ali, mas para aproximá-las da Ternura e Misericórdia de Jesus.
O que a missão de escuta deixou nos Ambientes Digitais:
1- Escutar: Realizou-se uma experiência de escuta, no modo digital (síncrono e assíncrono), aos influenciadores/evangelizadores digitais e a seus seguidores. Também foi possível vislumbrar um futuro no qual a escuta deve tornar-se cada vez mais habitual e mais profunda num âmbito eclesial que cresce e se fortalece neste espaço digital.
2- Discernimento: Esta escuta deu lugar ao diálogo que levou ao discernimento. O discernimento comunitário e pastoral está relacionado à busca do que agrada a Deus e não a uma opinião majoritária. É a ação do Espírito. Sair para as periferias existenciais nos espaços digitais levou a encontrar pessoas em busca, e a outras que foram feridas.
3- Sair/missionar: No mundo digital existem caminhos para uma pastoral, que quer ir ao encontro de todos e alcançar todos. Esta realidade subsiste no Povo de Deus mesmo antes das formas institucionais e se verifica na vocação e urgência de chegar aos últimos, aos que procuram, aos que necessitam da Ternura de Deus, aos esquecidos, aos que Deus não esquece.
4- Samaritanearix: A Igreja acompanha a humanidade, para servir homens e mulheres feridos à beira do caminho no Continente Digital, para mostrá-los e oferecer-lhes Jesus, o rosto Misericordioso do Pai. Esta comunidade de influenciadores/evangelizadores e seguidores digitais experimentou a si mesma, nesta fase, como Igreja Samaritana.
“Hoje, como no início, precisamos sair ao encontro de cada pessoa, e ainda mais, é nossa missão fazer isso, especialmente para com aqueles que estão mais distantes e aqueles que sofrem. Devemos alcançar as periferias existenciais de nosso mundo! Vocês conhecem seus contemporâneos, Vocês sabem que muitos estão sozinhos, que muitos não conhecem Jesus. Vão, vão e levem o Senhor, vão e preencham seus ambientes, mesmo as digitais… …para dar testemunho da Ternura e Misericórdia de Jesus.
I – Mensagem de Sua Santidade Bento XVI para o XIII Dia Mundial das Comunicações, Novas Tecnologias, Novos Relacionamentos. Promoção de uma cultura de respeito, diálogo e amizade, 24 de maio de 2009.
II- Evangelii Gaudium, 24.
III- RIIAL: Rede Informática da Igreja na América Latina ( www.riial.org )
IV- Asociación iMisión | Evangelizando el Continente Digital https://imision.org/
V- Mensagem de Sua Santidade Bento XVI para o XIII Dia Mundial das Comunicações, Novas Tecnologias, Novos Relacionamentos. Promoção de uma cultura de respeito, diálogo e amizade, 24 de maio de 2009.
VI- Este número é obtido pela soma do número de seguidores que cada influenciador/evangelizador digital tem, levando em consideração a rede na qual eles têm mais seguidores, para entender seu alcance potencial.
VII- Evangelii Gaudium, cap.2.
VIII- De acordo com a Treccani, influenciador é: Uma pessoa de sucesso, popular nas redes sociais e amplamente seguida pela mídia, capaz de influenciar o comportamento de um determinado público. Nós escolhemos usar este termo por causa de seu valor transcultural e, portanto, um termo de transição adequado ao método sinodal. O “evangelizador digital” completa seu significado no horizonte de sua missão, tanto em termos de conteúdo quanto em termos de modalidade e propósito.
IX – Cfr. Lc. 10, 33 – 35
X- Videomensagem do Santo Padre Francisco aos jovens participantes do Encontro organizado pela Conferência Nacional da Juventude Católica (NCYC) em Indianápolis (21-23 de novembro de 2019), 22.11.2019
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