A Igreja e o Mistério Pascal de Cristo – por Dom Marco Aurélio

Queridos(as) irmãos e irmãs,

 

A Igreja celebra o mistério pascal de Cristo e vive a alegria da feliz notícia da ressurreição do Senhor. Na Vigília Pascal já ressoa em nossos ouvidos estas belas palavras: “Ó Deus, que iluminais esta noite santa com a glória da ressurreição do Senhor, despertai na vossa Igreja o espírito filial para que inteiramente renovados, vos sirvamos de todo coração”.

O medo e o desânimo que tomaram conta dos discípulos, diante do desastre da paixão e morte de Jesus, foram vencidos pela manifestação do ressuscitado. Reconhecer Jesus ressuscitado significa não só uma referência à memória do vivido com Jesus, mas também uma experiência de encontro com a vida nova que se manifesta em Jesus (1 Cor 15; Lc 24,36-48). É preciso considerar a realidade da ressurreição, a experiência dos discípulos e a linguagem utilizada para comunicar o fato. Trata-se de expressar o encontro com o ressuscitado, realidade nova que ultrapassa os limites do espaço e do tempo. Por iniciativa de Jesus ressuscitado, os discípulos fazem a experiência de que Ele vive (se apresenta, vem…) num estado totalmente novo, numa nova dimensão.

Queridos(as) irmãos e irmãs, a Páscoa é, pois, a realidade maior de nossa fé. São Paulo já confessava: “se Jesus não ressuscitou, vã é a nossa fé” (1Cor 15, 14). É na ressurreição de Jesus que se assenta a certeza de nossa ressurreição e a vitória da vida sobre a morte e todo o pecado. Jesus Cristo, o Filho de Deus vivo, fez a sua parte.

Ao celebrarmos a Páscoa do Senhor alegremo-nos por participarmos de tão profundo e grandioso mistério. A grandeza de Deus está no fato de tornar-se pequeno, fazer-se servo, olhar em nossos olhos, se curvar diante da nossa fraqueza, da nossa pobreza e do nosso sofrimento; assumir nossa condição para nos redimir.

“Ele, Jesus, é a Páscoa da nossa salvação. Foi ele que tomou sobre si os sofrimentos de muitos: foi morto em Abel; amarrado de pés e mãos em Isaac; exilado de sua terra em Jacó; vendido em José; exposto em Moisés; sacrificado no cordeiro pascal; perseguido em Davi e ultrajado nos profetas. Foi ele que se encarnou no seio da Virgem, foi suspenso na cruz, sepultado na terra e, ressuscitando dos mortos, subiu ao mais alto dos céus… Ressuscitando dos mortos, ressuscitou também a humanidade das profundezas do sepulcro” (Homilia sobre a Páscoa, de Melitão de Sardes – séc. II).

Esta Páscoa sagrada do Senhor e nossa, a Igreja celebra a cada Domingo e até a cada dia na Eucaristia e, de modo soleníssimo, uma vez ao ano, com o Tríduo Pascal e os subsequentes cinquenta dias, terminando com a solenidade de Pentecostes, celebração do dom do Espírito que o Ressuscitado fez e faz à sua Igreja. Na potência do Espírito, no qual ele mesmo foi ressuscitado pelo Pai, Jesus está e estará sempre conosco, de modo real e concreto, guiando e preservando a sua Igreja, até a consumação dos séculos.

Um dia, que já não mais será um dos dias deste nosso tempo, o Senhor morto e ressuscitado, “Cordeiro de pé, como que imolado” (Ap 5,6), se manifestará na glória do seu Espírito Santo – o mesmo que já habita em nós desde o batismo – e levará todas as coisas à plenitude. Então, tendo transfigurado tudo no seu Espírito, Cristo entregará tudo ao Pai e o Reino de Deus será plenamente consumado… e nós, plenificados, estaremos eternamente com o Senhor, num mundo liberto e renovado… e Deus, o Pai, será tudo em todos, pelo Filho, na glória do Espírito (1Cor 15,20-28).

Eis a nossa fé, nossa certeza, nossa esperança, nosso sonho… já começado no Dia da Páscoa! Pela Páscoa, e somente pela Páscoa, somos cristãos! A Ressurreição não é uma ilusão, não é uma quimera; é uma estupenda realidade: “Eu sou a Ressurreição! Quem crê em mim, ainda que morra, viverá!” (Cf. Jo 11,25)

Feliz e abençoada Páscoa, cheia da graça santificante para todos.

Itabira, 04 de abril de 2021.

Dom Marco Aurélio Gubiotti
Bispo Diocesano de Itabira-Coronel Fabriciano
“Pela Graça de Deus” (1Cor 15,10)

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