A Eucaristia: o mais sublime dos sacramentos

Imagem de Gini George por Pixabay

Trata-se do maior e mais sublime de todos os sacramentos, o Sacramento por excelência – o Santíssimo Sacramento! A Eucaristia é o Sacramento e todos os outros somente podem ser chamados de sacramentos porque preparam para ela ou dela decorrem! O Batismo nos abre a porta para o Banquete eucarístico, pois fomos todos batizados num só Espírito para formarmos um só Corpo na Ceia do Senhor (cf. 1Cor 12,13), a Confirmação, ao nos dar o Espírito como Força, faz-nos membros vivos que edificam o Corpo do Senhor que é a Igreja, alimentando-nos com o Sacramento do Corpo presente no Altar, de modo que somos sempre, de novo, reunidos e alimentados num só Corpo, assumindo a parte da missão que o Espírito do Senhor nos dá para o bem da Igreja. O Sacramento da Penitência nos reinsere, pelo perdão, na Assembleia eucarística, pois, reconciliados no Corpo, participamos do Corpo do Senhor. Depois, os sacramentos da missão: a Ordem e o Matrimônio: deveriam ser celebrados dentro da Eucaristia ou pelo menos, no caso do Matrimônio, com a comunhão eucarística, pois são sacramentos que servem à edificação da Igreja, Corpo do Senhor, seja pelo pastoreio, seja pela geração de novos membros e edificação da Igreja doméstica em cada família. Assim, tudo gira em torno da Eucaristia, lugar bendito, celebração sagrada, na qual o Cristo faz-Se Corpo imolado e ressuscitado para alimentar a Igreja e dela fazer o Seu Corpo, unindo a Si cada membro, de modo que todos comunguem no Santo Espírito para a glória do Pai!

Mas, como falar desse sacramento é muito complexo, dada a riqueza e a pluralidade de facetas da Eucaristia, vou seguir o esquema do Catecismo da Igreja Católica, comentando-o e aprofundando-o. E vamos iniciar precisamente citando Catecismo: O nosso Salvador instituiu na Última Ceia, na noite em que foi entregue, o sacrifício eucarístico do Seu Corpo e do Seu Sangue, para perpetuar no decorrer dos séculos, até Ele voltar, o sacrifício da Cruz, e para confiar, assim, à Igreja, Sua amada Esposa, o memorial da Sua Morte e Ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal em que se recebe Cristo, a alma se enche de graça e nos é dado o penhor da Glória futura” (n. 1323).

Estas palavras resumem de modo admirável o sentido e a riqueza da Eucaristia. Já aqui é interessante observar algo muito importante: quando falamos em Eucaristia não estamos pensando primeiramente na hóstia e no vinho consagrados, mas sim na Celebração eucarística, isto é, na Missa, sacrifício eucarístico do Corpo e do Sangue do Senhor, para perpetuar no decorrer dos séculos, até que Ele venha, o Sacrifício da Cruz! Então, a Eucaristia é a Missa! Mas, que significa “missa”? Onde, nas Escrituras Sagradas, se fala nela?

No decorrer da história, este sacramento teve vários nomes, cada um deles sublinhando um aspecto deste mistério tão rico.
Primeiramente chamou-se “Eucaristia”, palavra grega que significa, “ação de graças” (muitos autores medievais traduziram errado como “boa graça”). O termo aparece muitas vezes o Novo Testamento e refere-se à bênção de ação de graças que tantas vezes Jesus, nosso Senhor, pronunciou nas Suas refeições com os discípulos: “E tomou o pão, deu graças (= eucaristizou), partiu e distribuiu-o entre eles, dizendo: ‘Isto é o Meu corpo que é entregue por vós” (Lc 22,19); “O Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças (= eucaristizar), partiu-o…” (1Cor 11,23s). Na religião dos judeus, o judaísmo, a bênção de ação de graças era proclamação das obras de Deus: a criação, a redenção e a santificação. Israel dava graças pelas grandes obras do Senhor em seu favor. A bênção de ação de graças, sempre começando com as palavras “bendito sejas Tu, Senhor, nosso Deus…”, é a expressão máxima da oração judaica. Foi assim também para o Senhor Jesus. Por isso, os cristãos, cumprindo a ordem do Cristo Senhor, celebram a Ação de Graças a Deus pela Sua grande obra, a maior de todas, que a toda engloba: ter entregado o Seu Filho desde a Encarnação até a consumação na Cruz, tê-Lo ressuscitado dos mortos e feito assentar-Se à Sua Direita na Glória. Portanto, celebrar a santa Eucaristia é bendizer e agradecer a Deus por tudo que nos fez pelo seu santo Filho Jesus.

Outro nome dado à Eucaristia, já no novo Testamento, foi “Ceia do Senhor” (cf. 1Cor 11,20), porque este Sacramento é a celebração daquela Ceia que o Senhor comeu com os Seus discípulos na véspera da Páscoa, como ponto alto de tantas ceias que o Senhor tomou durante a Sua vida entre nós, recordando o Reino de Deus e o convite dos pecadores e pobres ao Reino do Pai (cf. Lc 14,1-24, sobretudo 14,15). Por um lado, aquela Ceia, era já a celebração ritual, em gestos, palavras e símbolos, daquilo que o Senhor iria realizar no dia seguinte: Ele Se entregaria totalmente na Cruz, iria nos dar Seu Corpo e Seu Sangue: “Comei: isto é o Meu corpo que será entregue na Cruz! Bebei: isto é o Meu Sangue que será derramado por vossa causa!” Por outro lado, esta Ceia sagrada, chamada Última Ceia, já antecipava a ceia das núpcias do Cordeiro, núpcias de Cristo ressuscitado com Sua Esposa, a Igreja, na Jerusalém celeste: “Felizes aqueles que foram convidados para o banquete das núpcias do Cordeiro” (Ap 19,9). Participar da Ceia do Senhor é não somente participar da Ceia pascal que o Senhor Jesus celebrou como memorial de Sua Paixão, Morte e Ressurreição, mas também já antecipar, já saborear, na força do Espírito Santo, a ceia do Banquete celeste, quando o próprio Esposo, Jesus Cristo, será o alimento eterno para Sua Esposa, a Igreja. Em outras palavras: é uma Ceia que começa na terra e durará no Céu, por toda a eternidade!

Mais um nome para este sacramento santíssimo: “Fração do Pão”. É um nome antigo, presente também já no novo Testamento, sobretudo nos Atos dos Apóstolos. Este rito de partir o pão, típico das ceias judaicas, foi muitas vezes repetido por Jesus, nosso Salvador, quando abençoava e distribuía o pão (cf. Mt 14,19; 15,36; Mc 8,6.19) e, sobretudo, na Última Ceia, quando Ele partiu o pão. Através desse mesmo gesto, os discípulos reconheceram o Senhor ressuscitado: eles O reconheceram ao partir o pão (cf. Lc 24,13-35). A partir da Páscoa, a Igreja sempre soube que neste gesto sagrado o Senhor ressuscitado estaria sempre com ela, no meio dos Seus. Por tudo isso, os primeiros cristãos usavam a expressão “fração do pão” para designar suas reuniões nas quais, na Ceia, partiam o pão como o Salvador e em Sua memória. Deste modo, os primeiros cristãos queriam revelar a consciência que tinham de que todo aquele que come o único Pão partido, pão da Eucaristia, que é o próprio Senhor ressuscitado, entra em comunhão com Ele e forma com Ele e Nele um só Corpo, que é a Igreja: “O cálice de bênção que abençoamos não é comunhão com o Sangue de Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o Corpo de Cristo? Já que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só Corpo, visto que todos participamos desse único pão” (1Cor 10,16s).

Um outro nome, que era caro aos santos doutores da Igreja Antiga, sobretudo os de língua grega, era “Santa Synáxis”, que significa “assembleia”, “reunião”. Isto porque a Eucaristia é para ser celebrada pela Comunidade eclesial presidida pelo ministro ordenado, que faz as vezes do Cristo, Sacerdote dos bens vindouros (cf. Hb 9,11). Onde a Comunidade se reúne para a Eucaristia, aí está a Igreja, Povo de Deus reunido no único Espírito Santo, para oferecer o único Sacrifício do Filho Jesus para a glória do Pai e salvação do mundo inteiro.

Dom Henrique Soares da Costa – ex-bipos de Palmares, falecido em 2020, vítima da Covid-19

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