A esponsalidade de Cristo com a Igreja no Apocalipse de São João

“A participação decisiva de Maria na encarnação do Verbo se torna modelo para as núpcias de Cristo com a Igreja. É em seu seio que o Verbo se encarna, ou seja, ocorre pela primeira vez a união histórico-temporal entre o humano e o divino.”

 

A Igreja, chamada «Jerusalém do alto» e «nossa mãe» (Gál. 4,26; cfr. Apoc. 12,17), é também descrita como esposa imaculada do Cordeiro imaculado (Apoc. 19,7; 21,2. 9; 22,17), a qual Cristo ‘amou e por quem Se entregou, para a santificar’ (Ef. 5, 25-26), uniu a Si por um indissolúvel vínculo, e sem cessar ‘alimenta e conserva’ (Ef. 5,29), a qual, purificada, quis unida a Si e submissa no amor e fidelidade (cfr. Ef. 5,24), (LG, 6).

*Padre Gerson Schmidt dá continuidade à sua série de reflexões sobre a Igreja como esposa de Cristo. Nos programas anteriores, o sacerdote gaúcho falou sobre a Esponsalidade de Cristo nos Sinóticos e a Esponsalidade de Cristo no Evangelho de São João. Nesta quarta-feira, por outro lado, nos apresenta uma reflexão sobre a Esponsalidade de Cristo com a Igreja no Apocalipse de São João:

“Continuamos aprofundando o tema da esponsalidade de Cristo com a Igreja, tendo como pano de fundo a imagem da Lumen Gentium da Igreja como “esposa de Cristo”¹. Entendemos que essa imagem precisa ser mais aprofundada, pois reflete a essência do que é o mistério da Igreja-esposa e de Cristo-esposo. No Apocalipse, as imagens de esposo e esposa estão separadas para produzir uma cena de núpcias, que será narrada precisamente no capítulo 21. A importância escatológica do noivado já vem expressa em Efésios 5,31, que compara a união esponsal com a de cristo e sua Igreja. Também em 2Cor 11,2 diz: “Desposei-vos a um esposo único, a Cristo, a quem devo apresentar-vos como virgem pura”. Paulo, amigo do esposo, apresenta o noivo à sua noiva, que é a Igreja.

Mas, a imagem esponsal se torna evidente e mais clara no capítulo final do Apocalipse de São João: “Alegremo-nos e exaltemos, demos glória a Deus, porque estão para realizar-se as núpcias do cordeiro, e sua esposa já está pronta…” (Ap 19, 7). A maioria dos exegetas concorda ser esta uma imagem que ressalta a união do Esposo, que é Cristo, com a esposa que Ele escolheu, que é sua Igreja. As núpcias do Cordeiro simbolizam o estabelecimento do Reino celeste. É Cristo o Esposo da Igreja (cf. Ef 5, 23-32). As núpcias são a realização perfeita da Aliança, que são esperadas para o fim dos tempos (cf. Mt 22, 2; 25, 1-13).

Analisando o capítulo 21 do Apocalipse, vemos a primeira parte é a de Ap 21,1-8. Nesse trecho, o tema fundamental é o novo mundo, nova terra e novo céu, desaparecimento das coisas antigas, pois Deus renova todas as coisas. No meio da passagem surge um novo tema: a morada que Deus vai estabelecer entre os homens. Assim, nesta parte, o autor apresenta o mundo novo, o qual ele identifica com a Jerusalém celeste, que está revestida como uma esposa para agradar ao seu esposo. A segunda parte é Ap 21, 9-27. Esse trecho extenso é marcado pela descrição da Jerusalém celeste, a esposa do Cordeiro. É preciso, pois, identificar a mulher com a Igreja, ainda que se deva recordar imediatamente que, a Igreja fundamenta suas raízes na história de Israel. “… Vem! Vou mostrar-te a Esposa, a mulher do Cordeiro” (Ap 21, 9b). Esse versículo permite sublinhar a correspondência antitética entre a grande prostituta (Babilônia) e a esposa do Cordeiro (Jerusalém). Retoma-se o tema abordado em 19,7 e 21,2. Manifesta-se assim a presença escatológica de Deus em sua cidade santa. A cidade brilha pela presença direta de Deus na mesma, não precisando de sol ou de qualquer outra luz para ser iluminada (v.23): “Sua lâmpada é o Cordeiro”.

A participação decisiva de Maria na encarnação do Verbo se torna modelo para as núpcias de Cristo com a Igreja. É em seu seio que o Verbo se encarna, ou seja, ocorre pela primeira vez a união histórico-temporal entre o humano e o divino. Há uma íntima unidade entre a união humano-divina no seio de Maria e as novas núpcias do Cordeiro com a Igreja. Os dois encontros conjugais se relacionam como sendo um, o momento primeiro, e o outro, a sua realização plena². A Igreja é hoje essa mulher que foi gerada por Cristo, mas que também o gera diariamente, sobretudo na Eucaristia.

No epílogo, na conclusão do Apocalipse, usa-se novamente o termo “esposa”, no versículo 17 do capítulo 22: “O Espírito e a Esposa dizem: Vem! Que aquele que ouve diga também: Vem!” É o Espírito presente na Igreja, esposa de Cristo, que lhe inspira este apelo e convite para receber “gratuitamente a água da vida”.”

Fonte: Vatican News – Jackson Erpen

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

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¹Tema embasado em artigo da Revista Teocomunicação, Porto Alegre, v. 38, n. 160, p. 235-251, maio/ago. 2008, de autoria de Edson Pereira e Manoel Augusto Santos.

²M. DEL PILAR RÍO. Teología nupcial del Misterio redentor de Cristo. Roma: Apollinari Studi, 2000, p. 171-174.

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