A esponsalidade de Cristo com a Igreja

“A ação de Cristo é a de um esposo solícito que procurou, chamou, limpou, santificou e infundiu a sua graça para que os seus seguidores pudessem retribuir esse amor”.

 

Esta é a Igreja Una, Santa, Católica, Apostólica e formada por pecadores, necessitados da Sua misericórdia. Esta é a Igreja, a verdadeira Esposa de Cristo, que procura ser fiel ao seu Esposo e à sua doutrina.

Assim falou o Papa Francisco ao encerrar a XIV Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, em outubro de 2014, dando algumas de suas características:

Bem antes, na abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II, em 11 de outubro de 1962, São João XXIII assim se referiu à Igreja: “Nos nossos dias, a Esposa de Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia que o da severidade”.

Mas, onde nas Sagradas Escrituras a Igreja é apresentada como Esposa de Cristo? Quem nos explica é padre Gerson Schmidt*:

“O Concílio Ecumênico do Vaticano II afirma que no Antigo Testamento a revelação da Igreja se dá sob figuras. Também no Novo Testamento são usadas imagens que nos dão a conhecer a natureza íntima da Igreja.  Já comentamos aqui a imagem da Igreja como Esposa de Cristo. Queremos aprofundar o tema da esponsalidade de Cristo com a Igreja. É importante aqui apresentar a Igreja como a Esposa e não somente como uma mera imagem, senão como uma realidade essencial que indica algo que é central de seu próprio ser e mistério, merecendo ocupar um lugar de maior destaque na teologia e na vida da Igreja.

O tema da Igreja-Esposa merece ser colocado em evidência devido a três razões fundamentais: 1º) porque brota da Sagrada Escritura e foi desenvolvido ao longo da tradição cristã; 2º) porque obriga a considerar a Igreja como uma realidade própria que não surge de uma soma de membros, mas cuja personalidade é um verdadeiro mistério que nos leva ao íntimo de seu ser; 3º) porque põe em consideração o fim último e central do mistério criador e redentor, ou seja, a união de Deus com os homens[1].

No Antigo Testamento, é muito rica para Israel a imagem da relação esponsal para exprimir o amor de Deus ao seu povo. Diante da imagem preparada pelos profetas, o Novo Testamento apresenta Jesus Cristo como Esposo para o povo de Deus. O próprio Jesus dá a compreender que o anúncio dos profetas sobre Deus-Esposo, sobre o Redentor, sobre o Santo de Israel, encontra n’Ele próprio o seu cumprimento. Ele revela a sua consciência do fato de ser o Esposo entre os discípulos, aos quais, porém, no fim será tirado. Jesus, portanto, desempenha o papel de Esposo e inaugura o tempo da salvação messiânica, mas no horizonte se esboça o destino doloroso do Messias, que será lacerado de modo violento como o servo de Iahweh[2].

Ao comentar a missão de Jesus, pode-se lembrar da comparação patrística do nascimento da Igreja com o de Eva. Como Eva nasceu do lado de Adão, assim a Igreja nasce do lado aberto de Cristo, aberto pela lança do centurião. Eva nasce quando Deus coloca Adão para dormir. Da mesma forma, pela morte de Cristo, de seu lado nasce a nova Eva, a Igreja.

“Cristo compara a sua missão com as núpcias (cf. Mt 25, 1-13; 22, 2-14); a pregação de Cristo é apresentada por João Batista (cf. Jo 3, 29) e por Cristo (cf. Mt 9, 15) como festa de casamento; por sua morte Cristo se entrega por sua esposa e a santifica (cf. Ef 5, 25-28), adquire-a com seu sangue (cf. At 20, 28); A Igreja nasceu do lado aberto como Eva (esposa e mãe) de Adão. A figura da esposa exprime: aliança indissolúvel, comunidade de vida, imaculidade (sic!); dever de procurar sempre estar sem rugas e sem manchas; cuidado do Esposo pela esposa; amor mútuo, fidelidade; fecundidade”[3].

A ação de Cristo é a de um esposo solícito que procurou, chamou, limpou, santificou e infundiu a sua graça para que os seus seguidores pudessem retribuir esse amor. Cristo, por livre eleição, foi procurá-los e chamá-los por seus apóstolos e a inspiração de sua graça; limpou-os com seu sangue, santificou-os pelos seus sacramentos, infundiu-lhes suas virtudes e plasmou assim aquela que seria sua Esposa, capaz de retribuir-lhe amor por amor[4].”

Fonte: Vatican News – Jackson Erpen

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

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[1] Idem.

[2] f. R. FABRIS. Matteo. Roma: Borla, 1982, p. 220.

[3] B. KLOPPENBURG. A eclesiologia do Vaticano II.Petrópolis: Vozes, 1971, p. 41

[4] B. BARTMANN. Teologia Dogmática: A Redenção, a graça e a Igreja. São Paulo: Paulinas, 1962, vol. II, p. 434.

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