Existe uma dinâmica de comunhão ao longo da Missa que vai num crescendo desde a reunião da assembleia até a participação do mesmo Pão e do mesmo Cálice. Comunhão aqui é mais do que mera união, mera relação pessoal ou um estar juntos. A comunhão é uma verdadeira fusão. Tornar-se um em dois ou dois em um, a exemplo do mistério de amor do esposo e da esposa. Isto entre Deus e o ser humano, sem que cada um perca a sua identidade.
A primeira expressão de comunhão é a própria reunião da assembleia. Todos os fiéis convocados pela mesma fé em Jesus Cristo ressuscitado reúnem-se. Esta reunião já expressa o Corpo de Cristo, a Igreja, formada de pedras vivas.
Tendo dispostos os corações, todos ouvem a Palavra de Deus procurando conformar suas vidas com a mesma. Todos rezam para que possam realizar em suas vidas a mensagem ouvida.
Na preparação e apresentação dos dons, a comunhão já se expressa de modo mais eloquente. Assim como a hóstia é formada de muitos grãos de trigo e o vinho composto de muitas uvas, os fiéis reunidos, representados no pão e no vinho formam um só povo de irmãos e irmãs, uma só oferenda a ser apresentada por Cristo ao Pai.
Pela Oração eucarística, Deus aceita as oferendas. Não só as aceita, mas as transforma no Corpo e no Sangue de Cristo. Todos os fiéis, de modo misterioso, mas real, também são transformados em Cristo e oferecidos com Ele e Nele ao Pai. Na hora da Consagração e no memorial explícito da morte e ressurreição de Jesus, todos fazendo sua a Oração eucarística, tornam um com Cristo e em Cristo. As palavras do Pai a seu Filho dirigem-se a todos os que estão em comunhão com Ele: “Este é o meu filho muito amado, esta é minha filha muito amada, nos quais pus a minha complacência”. Isto é participação ativa, eficaz e frutuosa na Liturgia.
Assim reconciliados e feitos irmãos de Cristo e filhos do Pai celeste, todos podem exclamar e dizer “Pai nosso…”. Todos manifestam a paz e a comunhão entre si, irmanados em Jesus Cristo.
E Deus não se deixa vencer em generosidade. Em resposta à oferta de suas vidas aceitas como dom de Deus, o Pai convida seus filhos à mesa divina, onde o próprio Deus se dá em alimento. É o momento sublime em que todos participam do mesmo Corpo e do mesmo Sangue do Senhor, tornando-se um só corpo e um só espírito. Aí se realiza o desejo do ser humano de ser como Deus, de participar de sua divindade. Não na atitude de orgulho, querendo a vida como direito, mas acolhendo-a como dom de Deus, incluindo a sua condição mortal. Jesus se deixa comer e beber como garantia da imortalidade. Antegoza-se a realidade da vida e da felicidade eterna em Deus.
Este processo dinâmico de comunhão com Deus e com os irmãos na Missa deve ser acompanhado da dinâmica do silêncio progressivo até chegar à plenitude na hora da Comunhão. A linguagem eloquente da comunhão e da saciedade é o silêncio. Isso vale, sobretudo, para o canto da Missa. A abertura pode ser mais veemente. Trata-se de busca, de súplica. Como grande doxologia de abertura temos o “Glória” que pode ser vibrante. A Palavra de Deus já se torna mais contemplativa e orante como o Salmo Responsorial. Da apresentação das oferendas em diante, o canto já se torna mais confiante. A partir do Pai nosso, o canto se torna ainda mais contemplativo e sereno. Assim, o Cordeiro de Deus, o canto de Comunhão e o hino de louvor e agradecimento depois da Comunhão deverão ser calmos e contemplativos, deixando espaço também à oração silenciosa após a Comunhão, oração do coração, oração de comunhão, oração do silêncio.
Fonte: Franciscanos – Especial Gotas de Liturgia / Por Frei Alberto Beckhäuser