Por Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica São João Maria Vianney
Na vida de São Pio X, lê-se que, no início da primeira guerra mundial, o imperador da Áustria pediu-lhe a bênção para a suas tropas. O Papa ordenou que lhe respondessem: “Eu abençoo a paz, não a guerra”.
Sobre o uso das armas disse Jesus: “Quem não tiver espada, venda o manto para comprar uma” (Lc 22, 36). E: “Todos os que usam da espada, pela espada perecerão” (Mt 26, 52).
Sobre essa questão do uso das armas, recordo a posição da Igreja sobre a legítima defesa e o desarmamento. As duas posições, aparentemente contraditórias, podem se conciliar.
A legítima defesa é doutrina claramente exposta no Catecismo da Igreja Católica: “Quem defende a sua vida não é réu de homicídio, mesmo que se veja constrangido a desferir sobre o agressor um golpe mortal… A legítima defesa pode ser não somente um direito, mas até um grave dever para aquele que é responsável pela vida de outrem…” “os detentores legítimos da autoridade têm o direito de recorrer mesmo às armas para repelir os agressores da comunidade civil confiada à sua responsabilidade” (nn.2263-67). Portanto, há a possibilidade e até a necessidade de se estar armado: a polícia, o exército, um pai de família que mora na zona rural, as autoridades e seus guarda-costas, etc.
Outra coisa é a guerra cultivada e a corrida armamentista desenfreada. Contra essas é que a Igreja se opõe: o cultivo da guerra e a violência com o uso das armas. É nesse sentido que se deve entender o que disse Dom Orlando Brandes, nosso caro Arcebispo de Aparecida: “Para ser pátria amada não pode ser pátria armada!”
Ouçamos a voz dos Papas:
“É necessário que com seriedade e lealdade se proceda a uma limitação progressiva e adequada dos armamentos (…) Segundo a medida que se realizar o desarmamento, será preciso estabelecer meios apropriados, honrosos para todos e eficazes” (Ven. Pio XII 24/12/1941).
“A justiça, a reta razão e o sentido da dignidade humana terminantemente exigem que se pare com essa corrida ao poderio militar, que o material de guerra, instalado em várias nações, se vá reduzindo duma parte e doutra, simultaneamente, que sejam banidas as armas atômicas; e, finalmente, que se chegue a um acordo para a gradual diminuição dos armamentos, na base de garantias mútuas e eficazes” (S. João XXIII, Pacem in Terris, 1963).
“Se vós quereis ser irmãos, deixai cair as armas das vossas mãos. Não se pode amar com armas ofensivas nas mãos” (S. Paulo VI, ONU, 4/10/1965)
“A manutenção da paz mundial exige enérgica tomada de posição em favor dos direitos humanos e esforços resolutos para um desarmamento geral” (S. João Paulo II, 28/10/1982).
“O desarmamento não diz respeito unicamente aos armamentos dos Estados, mas compromete todos os homens, chamados a desarmar o próprio coração e a ser em toda a parte construtores de paz (…) não se pode descuidar o efeito que os armamentos provocam no estado de espírito e no comportamento do homem. Com efeito, as armas por sua vez tendem a alimentar a violência” (Bento XVI, 10/4/2008).
“Rezemos para que no mundo prevaleçam os programas de desenvolvimento e não aqueles para os armamentos” (Francisco,28/9/2018).