Pe. Johan Konings
No domingo passado vimos a missão dos doze apóstolos. Hoje, assistimos à volta dos doze. Cumpriram tão bem seu primeiro “estágio pastoral” que Jesus os convida para um piquenique ou um dia de retiro na margem do lago de Genesaré. Entram no barco, navegam uns quilômetros e, quando chegam no lugar desejado, encontram uma multidão de pessoas que os viram partir e correram pela margem até lá. Decepção? Não. “Jesus encheu-se de compaixão por eles, porque eram como ovelhas sem pastor”(evangelho). Jesus se torna pastor para essas ovelhas. E o que faz? “Pôs-se a ensinar muitas coisas”.
No Antigo Testamento, pastor é aquele que orienta e conduz. Vai à frente das ovelhas para conduzi-las a pastar. Assim eram chamados pastores os chefes do povo de Israel: os reis Moisés, o Messias, e sobretudo: Deus mesmo (Sl 23 [22]; 95 [94], 7 etc.). E é assim que na 1ª leitura de hoje Deus mesmo se apresenta, à diferença dos maus pastores (Jr. 23, 1-6). Os maus pastores dispersam o rebanho, o bom pastor reconduz os dispersos.
O projeto de reconduzir o povo recebe sua plena realização em Jesus de Nazaré. Ele procura um lugar tranquilo para os discípulos, mas topa com uma multidão carente de pastor. Então tem compaixão deles e começa a ensinar-lhes as coisas do Reino. Temos aí a origem da “pastoral”. A pastoral é colocar em prática a “compaixão” pelo povo. Não a compaixão de chamar alguém de coitado, sem fazer nada. Mas a “paixão” que nos faz sentir “com” o povo.
Acolher o povo, ensinar-lhes as coisas do Reino, tudo o que Jesus faz para o povo com vista ao Reino é “pastoral” em proveito de Deus, é cuidar de seu rebanho. Por isso, Jesus dará até a vida (Jô 18,11-18). O que faz algo ser pastoral não é tal ou tal atividade determinada, mas o intuito com que ela é assumida: transformar um povo sem rumo em povo conduzido por Deus.
Por isso, hoje, o importante não é multiplicar atividades chamando-as de pastoral, mas cuidar de que os que as realizam tenham alma de pastor, atitude de pastor: acolhida, liderança e amor até doar a própria vida.
Pastoral é conduzir o povo pelo caminho de Deus. É inspirada não pelo desejo de poder, mas pelo espírito de serviço. Jesus não procurou arrebanhar o povo para si. Inclusive, vendo o entusiasmo equivocado, se retirou (Jô 6,14-15). Ele procura levar o rebanho ao Pai, nada mais. Ser pastor não é autoafirmação, mas o dom de orientar carinhosamente o povo eclesial para Deus.
Fonte: franciscanos.org.br
PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atua como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.