Por Dom Antônio de Assis Ribeiro, SDB
Bispo Auxiliar de Belém – PA e Secretário Regional da CNBB Norte 2
Introdução
No dia 15 de abril de 1983, na 21ª Assembleia Geral da CNBB, foi aprovado o documento Catequese Renovada (Documento 26). Ele nos apresenta orientações gerais para a Catequese inspiradas no Concílio Vaticano II, no Documento de Medellín, Puebla, na Exortação apostólica Evangelii Nuntiandi e Catechesi Tradendae.
Para quem foi catequista nos anos 80 e 90 sabe o quanto esse documento foi estudado e significou para alavancar a promoção da Pastoral Catequética no Brasil em todos os contextos. Infelizmente com o passar dos anos esse documento, que ainda não perdeu sua validade, tem sido um tanto esquecido. Hoje a catequese de Iniciação à Vida Cristã não teria firmeza sem levarmos em conta esse caminho de renovação da catequese.
O documento Catequese Renovada tem quatro partes, a saber: a catequese e a comunidade na história da Igreja, princípios para uma catequese renovada, temas fundamentais para uma catequese renovada e quarta parte a comunidade catequizadora. É um documento extenso contando com 319 parágrafos. Recordemos alguns aspectos fundamentais desse documento.
- A catequese na história da Igreja (cf. 1-29).
Assim como nos apresenta a exortação apostólica “Catechesi tradendae”, a Catequese Renovada retoma um pouco a história da catequese, algumas das suas fases fundamentais. Na primeira fase a catequese foi concebida como iniciação a fé e à vida da comunidade. Esse dinamismo da catequese foi particularmente experimentado do I ao V século. Foi o período da doutrina dos apóstolos e depois desenvolvida a partir dos padres da Igreja.
A segunda fase da história da Catequese a compreendeu como processo de imersão na cristandade; esse período corresponde do século V ao XIV. Esse longo período foi caracterizado pela aliança entre o poder civil e o eclesiástico; a catequese era promovida pelas escolas episcopais, monacais e pregadores. A educação da fé também se manifestava através das artes, como, por exemplo, a pintura e a escultura.
A partir do Século XVI a catequese foi caracterizada como instrução. Nesse período o mais forte na catequese era a preocupação com a clareza das formulações doutrinais a serem assimiladas. Foi o período da reforma protestante, que causando confusão doutrinal, provocou na Igreja o aprofundamento da doutrina. Esse período também recebeu a influência do iluminismo que despertou a inteligência humana para o aprofundamento das questões da fé.
A partir do século XX a catequese passou a ser compreendida como um processo de educação permanente para comunhão e participação na vida da comunidade de fé. Contribuiu para esse novo modo de compreender a catequese, os movimentos bíblico, patrístico, litúrgico e querigmático, bem como a sensibilidade das ciências humanas, o Concílio Vaticano II e as exortações apostólicas Evangelii Nuntiandi (Paulo VI, 1975) e Catequese Tradendae (João Paulo II, 1979).
A partir da segunda metade do século XX a catequese assumiu uma característica profundamente existencial, inserida no contexto orgânico da pastoral de conjunto e com grande consideração para com a dimensão comunitária e eclesial.
- Princípios para uma catequese renovada (cf. 30-161)
A segunda parte do documento Catequese Renovada nos apresenta algumas condições fundamentais para que haja, de fato, a renovação da pastoral catequética. O documento ressalta a íntima relação entre revelação e catequese; Deus por sua bondade se revela à humanidade, se comunica com os homens, comunica a si mesmo. A pedagogia divina para a sua revelação aos homens, se manifesta através de etapas, processo, experiências existenciais (o deserto), o caminho e com sujeitos diversos. Dessa forma, Deus se revela como educador e mestre do ser humano, educando-o gradativamente. Também assim deve fazer a pastoral catequética. O máximo da revelação divina acontece com Jesus Cristo, o Filho de Deus. Jesus é a Própria palavra de Deus feita carne (cf. Jo 1,14).
Outro grande princípio para a sadia Renovação da Catequese é a conservação da íntima relação entre Tradição, Sagrada Escritura e o magistério da Igreja. A autêntica Tradição é fiel a Sagrada Escritura e, ao mesmo tempo, progride na sua compreensão através da doutrina do magistério da Igreja. O documento recorda que a interpretação autêntica da Tradição e da Sagrada Escritura está confiada ao magistério da Igreja; o magistério, por sua vez, está a serviço da Palavra de Deus.
Outro aspecto muito significativo para renovação da catequese é a íntima relação entre fé e comunidade missionária. A acolhida da pessoa de Jesus Cristo, comporta a inserção na vida da comunidade fraterna dos seus discípulos. Essa comunidade é essencialmente fraterna e missionária.
O documento nos apresenta ainda a relação inseparável entre o ministério da Palavra e a catequese; a Palavra de Deus é a fonte da catequese. A catequese, por sua vez, faz parte do ministério da Palavra.
Enfim, para que a catequese possa ser autêntica e significativa é necessário que seja fiel ao homem, fiel a Jesus Cristo, fiel à Igreja, fiel às exigências do Reino de Deus; é preciso ainda cuidar da fidelidade às fontes (Sagrada Escritura e Tradição), zelar pela sua unidade, organicidade, integridade de conteúdo e adaptação ao contexto (existencial, cultural, eclesial…) do catequizando.
- Temas fundamentais (cf. 162-280)
A terceira parte do documento Catequese Renovada, trata de temas fundamentais para a renovação da catequese, tais como, considerar a realidade existencial do ser humano que apesar de marcado por tantas limitações e pecados, é sedento de salvação; é necessário dar atenção às realidades do mundo onde o ser humano vive, e os acontecimentos trágicos da história devem ser observados com os olhos de Jesus; o olhar do discípulo de Jesus Cristo deve ser profundamente crítico, mas ao mesmo tempo, profundamente marcado pela esperança porque deve estar grávido das virtudes do Reino de Deus. A visão da Igreja sobre o mundo não é meramente social, nem científica, mas teológica e pastoral; cada catequista é chamado a fazer análise da própria realidade a partir dos olhos da fé, motivado pelo dinamismo do Reino de Deus. Dessa forma é movido pela convicção de que, por traz da cruz, brilha a glória do Ressuscitado.
A Catequese é também chamada a centrar a sua atenção na verdade sobre Jesus Cristo, o filho de Deus libertador da história. O filho de Deus assumindo a natureza humana, habitou entre os homens trabalhando com suas mãos como um homem, pensando com a mente humana, agindo com vontade humana, amando com o coração humano (cf. 188). Com a vida e os ensinamentos de Jesus, Deus atendeu as súplicas humanas e quis libertar definitivamente os homens de toda forma de opressão. Movido pelo Espírito Santo, Jesus testemunhou uma práxis de vida profundamente libertadora através das suas palavras, atos e atitudes marcados pela misericórdia.
A Catequese Renovada é chamada a ser fiel à verdade sobre a Igreja, pois o seu fundador a quis como “luz do mundo” e sinal do Reino de Deus. Portanto, acolher a pessoa de Jesus Cristo significa aceitar a Igreja. Isso faz parte do evangelho; a Igreja é depositária e transmissora do evangelho, prolongando na terra, a ação evangelizadora de Jesus; a Igreja é única, pois o Senhor a chama de “minha Igreja”, daí emerge a imensa graça e responsabilidade dos discípulos de Jesus. Eis porque e tão importante uma Catequese que sempre se renova.
Maria, Mãe de Deus é modelo da Igreja. “Não se pode falar de Igreja sem que esteja presente Maria”. “Maria é a realização mais alta do Evangelho”. Nela contemplamos o modelo do catequista, pois ela é Mãe e a educadora da fé. “Ela cuida para que o Evangelho penetre intimamente em nossa vida e nossa cultura, e produza em nós frutos de santidade”.
PARA REFLEXÃO PESSOAL:
- Você já leu o documento “Catequese Renovada” – CNBB Doc. 26?
- Quais fatores contribuíram para o processo de renovação da Catequese?
- Quais são às instâncias de fidelidade que a Catequese deve cultivar?
Fonte: CNBB Norte 2
