Por Pe. Johan Konings
Depois de todos os esforços para integrarmos em nossas comunidades ricos e pobres, brancos e negros, homens e mulheres, constatamos que as discriminações, as panelinhas, os particularismos continuam. Quem mora mais perto da igreja matriz deve ser melhor atendido … Quem tem algum primo padre tem direito a cerimônias melhores… Muitos pensam que Deus está ai só para eles! A Igreja é realmente para todos, ou somente para gente de bem, “gente da casa”?
Os antigos israelitas achavam que a aliança de Deus pertencia exclusivamente a eles. Também achavam que bastava ser israelita para ter a salvação garantida. Não aguentavam que os seus profetas os criticassem. Por isso, quando Deus manda o profeta Jeremias, já o prepara desde o início para enfrentar a resistência de seu povo (1ª leitura). Semelhante resistência também a encontra Jesus, especialmente na sua própria terra, Nazaré. Ele anuncia que o Reino de Deus e a libertação se destinam também aos pagãos, e mesmo com prioridade (evangelho). Aos que ciosamente esperam dele milagres para sua própria cidadezinha, Jesus lembra que os milagres de Elias e Eliseu favoreceram estrangeiros. Por isso, seus conterrâneos querem precipitá-lo da colina de sua cidade. Mas Deus o toma firme e inabalável – como o tinha prometido a Jeremias. Com autoridade assombrosa, Jesus atravessa o corredor polonês formado pelos que ameaçam sua vida.
A Igreja, corpo e presença de Cristo, deve anunciar ao mundo a salvação para todos, sem discriminação ou privilégio. Ser “gente da casa” (católico de tradição) não tem peso algum. A boa-nova é para todos quantos quiserem converter-se. A primeira exigência do ser cristão é não ser egoísta, não querer as coisas só para si – nem as materiais, nem as espirituais. O evangelho é privilégio nenhum. Excluir quem quer que seja, por pertencer a outra classe, ideologia ou ambiente, está em contradição direta com o evangelho e a prática de Jesus. O evangelho é para todos. Se alguém, por força de sua cabeça fechada, tapa os ouvidos, problema dele. Portanto, que “os da casa” não rejeitem o profeta que se dirige a outros …
Para anunciar a boa-nova a todos, a Igreja “toda profética” não deve ser escrava de privilégios e influências alheias. Deve falar com a desinibição que caracteriza os profetas. Os que nela possuem o carisma profético devem destacar-se por sua autenticidade, sua coragem de: mártir, sua simplicidade, que deixa transparecer o Reino de Deus em sua vida.
Fonte: Franciscanos
PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atua como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.