Como festa eclesial da volta de Jesus ao Pai, fixada nos quarenta dias após a Páscoa, a Ascensão teve a sua proveniência no Oriente, ao fim do século IV e Pentecostes se tornará a festa da vinda do Espírito Santo. A festa tornou-se realidade também no Ocidente como a subida de Jesus à direita de Deus.
Por Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá/PA
A Ascensão do Senhor é sua a entrada para a glória do Pai, sentado à sua direita, assim como a Sagrada Escritura fala (Mc 16,19; Ef 1,20) e a Igreja profere a verdade de fé pelo creio. Ascensão é uma palavra latina, cujo significado é: subir, elevar-se[1]. Em relação a Jesus, foi a sua volta para Deus, uma vez que de Deus viera, por obra do Espírito Santo, encarnou-se no seio da Virgem Maria, proclamou a Boa Nova do Reino de Deus, curou muitas pessoas, expulsou demônios, deu vista aos cegos, ressuscitou mortos, enfrentou junto às autoridades, a sua morte de cruz, morreu, e, Deus Pai o ressuscitou dos mortos (At 2,24; 5,30), de modo que ele voltou para a casa do Pai, onde está sentado à sua direita. Esta festa aponta à nossa vida futura, a vida de pessoas que ressuscitadas, viverão para sempre com o Deus Uno e Trino e na comunhão dos santos e das santas. Vejamos a seguir estes pontos na Patrologia, patrística, os primeiros séculos do cristianismo.
A festa da Ascensão do Senhor
Os Atos dos Apóstolos (At 1,9-11) descrevem a Ascensão do Senhor, onde foi elevado à vista dos discípulos e uma nuvem os ocultou a seus olhos tendo em seguida, a palavra dos dois anjos que falaram a eles que da mesma forma que Ele foi arrebatado aos céus, virá a eles como o viram partir para o céu, de modo que eles não poderiam permanecer lá no Monte das Oliveiras, só olhando para o alto.
Como festa eclesial da volta de Jesus ao Pai, fixada nos quarenta dias após a Páscoa, a Ascensão teve a sua proveniência no Oriente, ao fim do século IV e Pentecostes se tornará a festa da vinda do Espírito Santo. A festa tornou-se realidade também no Ocidente como a subida de Jesus à direita de Deus[2].
O tempo dos quarenta dias
São Leão Magno, Papa no século V afirmou que o Senhor ao completar os quarenta dias, após a sua ressurreição, ele voltou para a casa do Pai. Ele prolongou a sua presença corporal por este espaço de tempo, para dar as provas necessárias à fé na sua ressurreição. O fato foi que a morte turbou muito os corações dos discípulos, com uma certa tristeza, por causa do suplício da cruz, do último suspiro e do sepultamento de seu corpo. Era uma espécie de delírio para os apóstolos ao saberem das santas mulheres, como narra a história evangélica que a pedra tinha sido rolada do túmulo, que o sepulcro estava vazio e os anjos testemunharam que o Senhor era o vivente no meio deles e delas (Lc 24,10-11)[3]. Desta forma a ressurreição iluminou a vida dos discípulos e das discípulas do Senhor, apontando para a sua Ascensão, a volta do Senhor para o Pai.
A atuação do Espírito da Verdade
O Espírito da Verdade, o Espírito Santo, não permitiu que a hesitação e a vacilação provenientes da fraqueza humana penetrassem na mente de seus discípulos, se a dúvida e a curiosidade não lançassem os fundamentos de sua fé. O Espírito Santo iluminou os discípulos, através da ressurreição de Jesus para as suas perturbações e os seus perigos[4].
A Ascensão do Senhor trouxe alegria aos discípulos
São Leão Magno disse também que os dias decorrentes após a ressurreição até a Ascensão do Senhor, apontassem para o dom que a Providência de Deus estabeleceu diante dos olhos e dos corações dos discípulos, o reconhecimento de ter o Senhor Jesus Cristo verdadeiramente ressuscitado, como também verdadeiramente nasceu, sofreu e morreu. Os apóstolos e todos os discípulos e discípulas, atemorizados com a morte na cruz e de fé oscilante na ressurreição, ficaram fortalecidos com a evidência da verdade que a subida do Senhor nos céus não os entristeceu, ma ao contrário encheu-os de grande alegria (Lc 24,52)[5].
A Ascensão, grande júbilo
São Leão Magno era convicto que Ascensão trouxe para eles e para elas grande júbilo. Jesus elevou-se na presença duma multidão, a sua natureza humana acima da dignidade de todas as criaturas celestes, ultrapassando as ordens angélicas e subiu mais alto que os arcanjos, quando assentada junto do eterno Pai, fosse associada ao trono de glória da natureza divina que estava unida no Filho[6].
A Ascensão de Cristo, nossa exaltação
Para São Leão Magno, a Ascensão do Senhor é, portanto a nossa exaltação e para a glória da Cabeça, que é Jesus, é atraída também a esperança do Corpo, que é a Igreja. Nesta festa todas as pessoas que seguem o Senhor, a sua Igreja tornam-se possuidoras não só do paraíso, mas até penetradores com Cristo no mais alto dos céus, pela inefável graça de Cristo Jesus através de sua encarnação, a natureza humana. O Filho de Deus colocou o ser humano, a natureza humana, à direita do Pai pelo seu Filho, Jesus Cristo[7].
A natureza humana glorificada
A Ascensão do Senhor é a natureza humana do Senhor Jesus, glorificada. Sendo ele de natureza de servo, pela encarnação, irradiou-se muitos sinais da divindade, de modo que demonstrou ser verdadeira a humanidade que ele assumiu. Com a ressurreição de Jesus as cadeias da morte foram rompidas, o pecado foi vencido, a fraqueza mudou-se em força, a mortalidade em eternidade, o opróbrio em glória. O Senhor Jesus Cristo introduziu nos céus o triunfo da vitória que obtivera dentre os mortos[8].
A Páscoa e a Ascensão
Uma relação muito grande existe entre a Páscoa e a Ascensão do Senhor Jesus Cristo. São Leão Magno disse que a Páscoa foi causa da alegria humana de modo que a vida se renovou. Ora a Ascensão aos céus foi motivo presente de gáudio, de alegria intensa, sobretudo de natureza espiritual, ou religiosa, júbilo[9], pois foi à rememoração de um dia em que a humildade da natureza humana em Cristo foi elevada acima de todas as milícias do céu, das ordens angelicais, dos postos excelsos das potestades, ao trono de Deus[10].
A presença do Ressuscitado continua na vida humana
São Leão Magno também era convicto que a presença do Ressuscitado continua viva na ação humana pelo bem e pela caridade. As obras humanas e divinas consolidam, edificam porque tanto mais admirável se torna a graça de Deus, apesar dos olhares humanos serem distantes, no entanto a fé não hesita a esperança não vacila e a caridade está bem presente naqueles que fazem o bem e praticam o amor aos mais necessitados.
As ações humanas vêm fortificadas pela ascensão do Senhor, como os vínculos através do matrimônio, as pessoas que passam nos cárceres por causa de Jesus e da Igreja, os suplícios da crueldade dos perseguidores, os homens, as mulheres e todas as pessoas que combateram na vida e com aqueles e aquelas que tiveram a efusão do próprio sangue. Os apóstolos obtiveram progressos com a ascensão do Senhor, pois tudo o que antes lhes incutira medo pela atrocidade da paixão do Senhor, converteu-se em alegria. A contemplação aos céus atingiu a divindade daquele que se assentou à direita do Pai. O Senhor ao descer não se afastara do Pai, nem se apartara dos discípulos ao subir aos céus[11].
A Ascensão, presença de Jesus
Ainda segundo São Leão Magno, o Filho do Homem, Filho de Deus, se revelou de uma forma mais excelente e sagrada, quando ele entrou na glória da majestade eterna. O fato é que mais distante pela humanidade, de maneira inefável, está mais presente pela divindade.
São Leão Magno convidou os seus fieis a levantar os olhos dos corações humanos às alturas onde Cristo se encontra. Os desejos terrenos não impeçam os espíritos voltados para o alto. Os fieis atravessam os tempos como peregrinos no vale deste mundo. O caminho da caridade, por onde Cristo Jesus desceu até a humanidade, as pessoas subam até Ele[12], junto à glória de Deus Uno e Trino. Nós somos chamados a viver o mistério da Ascensão do Senhor no cotidiano de nossa existência.
Fonte: Vatican News / CNBB Norte 2
[1] Cfr. Ascensióne. In: Il vocabolario treccani, Il Conciso. Milano, Trento, 1998, pg. 127.
[2] Cfr. V. Saxer – S. Heid. Ascensione. In: Nuovo Dizionario Patristico e di Antichità Cristiane, diretto da Angelo Di Berardino, A-E. Marietti, Genova, 2006, p. 569.
[3] Cfr. LXXIII Sermão. Primeiro Sermão na Ascensão do Senhor, 1. In: Sermões. Leão Magno. São Paulo, Paulus, 1996, pg. 168.
[4] Cfr. Idem, pg. 169.
[5] Cfr. Idem, pgs. 170-171.
[6] Cfr. Idem, pg. 171.
[7] Cfr. Idem, pg. 171.
[8] Cfr. LXXIX Sermão, Segundo Sermão na Ascensão do Senhor, 1, pg. 172.
[9] Cfr. Gàudio. In: Il vocabolario treccani, pg. 648.
[10] Cfr. LXXIX Sermão, Segundo Sermão na Ascensão do Senhor, 1, pg. 172-173.
[11] Cfr. Idem, pgs. 173-174.
[12] Cfr. Idem, pgs. 176-177.