Por Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
O primeiro filme da saga Indiana Jones – Os caçadores da Arca Perdida – traz a história de Indiana Jones e um grupo de nazistas procurando a Arca da Aliança, que Hitler acreditava ter poderes misteriosos para tornar seu exército invencível. Tudo isso é ficção, é claro.
O que era a Arca da Aliança? O ponto central do povo de Deus no Antigo Testamento era o Tabernáculo, que continha essa Arca da Aliança, sinal vivo da presença de Deus no meio do povo hebreu. A Arca da Aliança era uma urna feita de acácia, madeira incorruptível, revestida de ouro, com uma tampa também de ouro puro, encimada por dois querubins de asas abertas, em gesto de adoração. Essa tampa chamava-se propiciatório, e representava a presença de Deus. A Arca continha as tábuas da Lei – o Decálogo, os dez mandamentos dados a Moisés – o cetro de Aarão e um pote com o maná, aquele pão milagroso que alimentou o povo durante quarenta anos no deserto. Esta Arca, que era levada em procissões solenes, foi muito honrada e louvada pelo Rei Davi, que a instalou sob a tenda do santuário real de Jerusalém. O rei Salomão a introduziu no Templo de Jerusalém, por ele magnificamente construído. Ao lado da arca se depositava o livro da Lei ou da Aliança, daí o nome de Arca da Aliança.
Parece que esta arca teria desaparecido quando da invasão dos babilônios, chefiados por Nabucodonosor, que destruíram Jerusalém e o Templo de Salomão no ano 587 A.C.. O segundo livro dos Macabeus (2, 1-8) diz que, na ocasião, a Arca foi escondida por Jeremias numa gruta do Monte Nebo, local nunca achado, e que reaparecerá no fim dos tempos.
O livro do Apocalipse (Revelação), que trata dos últimos tempos, fala do reaparecimento da Arca: “Abriu-se o Santuário de Deus que está no céu, e apareceu no Santuário a Arca da sua Aliança… Então apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos pés e, sobre a cabeça, uma coroa de doze estrelas. Estava grávida…” (Ap 11, 19 – 12, 2). Quem é essa mulher-mãe, que seria a Arca da Aliança, que teria um filho que governaria todas as nações, a quem o dragão (o demônio), não conseguiria derrotar?
A Constituição Apostólica Munificentissimus Deus do Papa Pio XII, sobre a definição do dogma da Assunção de Nossa Senhora em corpo e alma ao céu, cita os Santos Padres da Igreja ao interpretar textos da Sagrada Escritura, referindo-se a Nossa Senhora. Assim, a propósito, o Salmo: “Erguei-vos, Senhor,…Vós e a Arca da vossa santificação” (Sl 131, 8). E, na Arca da Aliança, feita de madeira incorruptível e colocada no templo de Deus, viam como que uma imagem do corpo puríssimo da virgem Maria, preservado da corrupção do sepulcro, e elevado a tamanha glória no céu. Do mesmo modo, ao tratar desta matéria, descrevem a entrada triunfal da Rainha na corte celeste, e como se vai sentar à direita do divino Redentor (Sl 44,10.14-16).
Como Jesus honrou a sua Mãe, honramos nós também a Virgem Maria, a nova Arca da Aliança, que conteve em seu seio, assim como simbolicamente continha a antiga Arca, o Filho de Deus feito homem, Jesus Mestre (os dez mandamentos), o pão da vida eterna, a Eucaristia (o maná), o sumo sacerdote da nova lei (o cetro de Aarão).