A amizade na exortação apostólica Christus Vivit

Foto de Matheus Ferrero na Unsplash

Por Dom Antônio de Assis Ribeiro
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém (PA)

 

A pastoral juvenil abraça a totalidade das dimensões da pessoa do jovem, dentre elas, estão as dimensões socioafetiva, vocacional, lúdica, sexual. Uma pastoral juvenil que não dá a devida importância para essas dimensões, não considera seriamente a pessoa do jovem com seus múltiplos dinamismos, potenciais, anseios e necessidades.

A experiência da amizade é um fenômeno que perpassa todas essas dimensões. Nesta Exortação Apostólica, o Papa Francisco evidencia a experiência da amizade como um dos ingredientes imprescindíveis de uma autêntica Pastoral Juvenil por se tratar de uma realidade profundamente humana, sinal de maturidade e de abertura aos outros, bem como de crescimento na fé.

  1. Buscar a amizade de Jesus

A Exortação Apostólica pós-sinodal sobre a juventude, Christus Vivit (2019), parece ser o documento com maior abundância de citações sobre a Amizade como experiência humana a ser necessariamente considerada pela evangelização. Jesus fez a experiência dela, cuidou da amizade com os seus discípulos e, até nos momentos de crise, permaneceu fiel a eles (cf. CV, 31).

Os discípulos de Jesus Cristo são chamados a testemunhar muitas virtudes, dentre elas, a beleza da generosidade, do serviço, da pureza, da fortaleza, o perdão, a luta pela justiça e o bem comum, o amor aos pobres, a amizade social (cf. CV, 36). Portanto, a experiência de crescimento no seguimento de Jesus promove o ser humano estimulando-o a cultivar virtudes. Logo, evangelizar os jovens implica também a promoção da educação moral como consequência da prática da fé.

Nos jovens de hoje encontramos muitas feridas na alma consequentes de desejos frustrados, das discriminações, de injustiças sofridas, do sentimento de culpa por ter errado; a todos eles Jesus quer oferecer-lhes a sua Amizade, o alívio da sua companhia sanadora (cf.CV, 83). A experiência da plenitude da juventude é encontrada através da amizade com Jesus (cf. CV, 150). Jesus Cristo é aquele eternamente jovem e amigo por excelência da humanidade (cf. CV, 13); “Jesus é o vivente eterno; agarrados a Ele, viveremos e atravessaremos, ilesos, todas as formas de morte e violência que se escondem no caminho” (CV, 127).

  1. A amizade é dom de Deus

Deus é amigo, próximo à humanidade; “Deus é amor!” por isso quem entra em intimidade com Ele torna-se também capaz de Amar (cf. CV, 111-117). A gratuidade do amor nos leva a aprofundar a natureza da amizade. “A amizade é um presente da vida e um dom de Deus” (CV, 151).

Através dos amigos, o Senhor purifica-nos e faz-nos amadurecer; os amigos fiéis, permanecem ao nosso lado nos momentos difíceis e são um reflexo do carinho do Senhor com sua consolação e amorosa presença. Ter amigos ensina-nos a abrir-nos, a compreender, a cuidar dos outros, a sair da nossa comodidade e isolamento, a partilhar a vida (cf. CV, 151).

  1. A natureza da Amizade

A amizade, porque deriva do Amor, é consistente e dinâmica. Não é “uma relação fugaz e passageira, mas estável, firme, fiel, que amadurece com o passar do tempo. É uma relação de afeto que nos faz sentir unidos e, ao mesmo tempo, é um amor generoso que nos leva a procurar o bem do amigo” (CV, 152). A amizade é tão importante para Jesus que não quis chamar seus discípulo de servos, mas de amigos (cf. CV, 152). Estava a ressaltar a importância da relação de reciprocidade. Onde há amizade, há amor recíproco.

Na experiência da Amizade os jovens crescem no sentido de fidelidade, cuidado, solidariedade, tolerância, paciência, atenção às necessidades uns dos outros. A amizade é um dos mais significativos produtos da maturidade humana.

  1. Deus é amor

Encontramos na Sagrada Escritura muitas declarações profundas sobre o amor de Deus para com a humanidade; são declarações de amizade eterna. Por exemplo, às vezes Deus se apresenta como aqueles pais carinhosos que brincam com seus filhos: «Segurava-os com laços humanos, com laços de amor, fui para eles como os que levantam uma criancinha contra o seu rosto» (Os 11,4); «Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebê, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu nunca te esqueceria» (Is 49,15).

Amizade marcada pela fidelidade indissolúvel: «Eis que Eu gravei a tua imagem na palma das minhas mãos» (Is 49,16); «Ainda que os montes sejam abalados e tremam as colinas, o meu amor por ti nunca mais será abalado, e a minha aliança de paz nunca mais vacilará» (Is 54 10); «Amei-te com um amor eterno. Por isso, dilatei a misericórdia para contigo» (Jr 31,3); «És precioso aos meus olhos, te estimo e te amo» (Is 43,4).

Amizade poderosa que gera alegria: «O Senhor, teu Deus, está no meio de ti como poderoso salvador! Ele exulta de alegria por tua causa, pelo seu amor te renovará. Ele dança e grita de alegria por tua causa» (Sf 3,17). Amizade de Deus para com a humanidade é real, verdadeira, concreta, que nos proporciona a possibilidade do diálogo sincero e fecundo (cf. CV,117). Por isso, afirma o Papa Francisco: “quero recordar-te: Deus ama-te. Nunca duvides disto na tua vida, aconteça o que acontecer. Em toda e qualquer circunstância, és infinitamente amado” (CV,112).

  1. Da oração à amizade social

A pastoral juvenil é experiência de amizade com Deus e com os outros que promove a dilatação da dimensão socioafetiva. Por isso ela não deve ser reduzida à liturgia e muito menos à doutrinação. “A amizade com Jesus é indissolúvel. Nunca nos deixa, embora às vezes pareça calado” (CV, 153). “Com o amigo, conversamos, partilhamos as coisas mais secretas. Com Jesus, também conversamos. A oração é um desafio e uma aventura” (CV, 155). O Papa nos convida a pensar a oração como experiência de amizade com Deus.

«O cristianismo não é um conjunto de verdades em que é preciso acreditar, de leis que se devem observar, de proibições. Apresentado assim, repugna. O cristianismo é uma Pessoa que me amou tanto que reclama o meu amor” (CV, 156). “Proponho aos jovens irem mais além dos grupos de amigos e construírem a amizade social: «buscar o bem comum chama-se amizade social. A inimizade social destrói. E uma família destrói-se pela inimizade. Um país destrói-se pela inimizade. O mundo destrói-se pela inimizade… Sede capazes de criar a amizade social” (CV, 157).

  1. A importância de espaços de amizade

O Papa Francisco nos estimula a pensar na importância de oferecer aos jovens espaços onde possam entrar e sair livremente, encontrar-se espontaneamente em clima de confiança com outros jovens e festejar as suas alegrias. Esse ambiente rico de afeto propício para a experiência da amizade são os oratórios e os centros juvenis (cf. CV 218, 226-228). São João Bosco costumava dizer que o Oratório “é casa que acolhe, paróquia que evangeliza, escola que encaminha para a vida, e pátio onde os jovens se encontram como amigos e vivem com alegria”.

A experiência da amizade promove o intercâmbio de riquezas pessoais e possibilita reforçar competências sociais e relacionais. A vivência de grupo constitui um grande recurso para a partilha da fé, a ajuda mútua, o apostolado e a experiência de amizade (cf. CV, 219)

 PARA A REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Por que a promoção da experiência da amizade entre os jovens é importante na Pastoral Juvenil?
  2. Por que a amizade é um dos mais significativos produtos da maturidade humana?
  3. Quais são as consequências do doutrinarismo na pastoral juvenil?

Fonte: CNBB Norte2

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