Por Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá/PA
As aparições do Ressuscitado suscitaram alegrias nos discípulos e nas discípulas do Senhor. Todas as pessoas ficaram admiradas ao verem o Senhor Ressuscitado, nas quais mudaram de vida, de tristes que iam embora, após os acontecimentos pascais, voltavam para a comunidade apostólica, felizes por se encontrarem com o Senhor. Estes dados perceberam-se com os dois discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35) e também num trecho evangélico, narrado por São Mateus, onde as mulheres foram ao sepulcro, que o encontraram vazio. Um anjo apareceu para elas para dar-lhes a noticia da ressurreição de Jesus. Enquanto elas estavam saindo do túmulo, com temor e com alegria, correram para dar a notícia aos discípulos. Nisso o Senhor Jesus apareceu para elas transmitindo-lhes a alegria de sua ressurreição (Mt 28,1-9).
Na atualidade, período de apreensão, de angústia em ver as guerras que matam pessoas, destroem famílias, trazem a fome, deixam tudo sem vida, é fundamental olhar para a vida do Ressuscitado que traz forças e alegrias imensas na caminhada deste mundo na fé, na esperança e na caridade. O Papa Francisco pede tanto a paz entre as nações. Anunciemos a ressurreição do Senhor que traz alegrias imensas para nós e para a humanidade. Vejamos a seguir como esta doutrina apareceu nos padres da Igreja, os primeiros escritores cristãos.
Alegrai-vos sempre no Senhor
São João Crisóstomo, bispo de Constantinopla, séculos IV e V, colocou o dado que São Paulo afirmou que é fundamental alegrar-se no Senhor (Fl 4,4). Alguns acontecimentos levam à angústia, à tristeza de modo que a presença de Cristo Ressuscitado traz alegrias imensas para o prosseguimento de nossa existência terrena[1]. A causa da alegria cristã é o Senhor vivente para sempre junto de Deus e junto à humanidade.
A ressurreição trouxe alegria para o ser humano
São Cirilo, bispo de Jerusalém, século IV, afirmou que a ressurreição de Jesus trouxe alegria para a vida humana. Ele interpretou a palavra da Escritura dizendo que Jerusalém deveria se alegrar, sobretudo, todos aqueles que estavam no luto (Is 66,10). Foi naquela cidade que ele foi ultrajado, mas Deus o ressuscitou dos mortos(At 5,30). Se de fato os discípulos ficaram tristes pelo anúncio de sua morte na cruz, no entanto surgiu a boa noticia da ressurreição, como fonte de alegria para todos os presentes. Houve a mudança em alegria, a dor, o choro em vibração pelas coisas de Deus (Sl 70, 29,12). Quem estava na morte, ressuscitou dos mortos; livre entre os mortos (Sl 87,6). Jesus é o Libertador dos mortos[2].
Cristo Jesus é a fonte da nossa alegria
São Agostinho, bispo de Hipona, séculos IV e V disse que os discípulos estavam tristes depois que o Senhor foi crucificado; foram embora angustiados e choravam pensando de ter perdido toda esperança. Mas o Senhor ressuscitou dos mortos. Ainda que Ele se manifestasse a eles, os encontrou tristes. Desta forma ele caminhou com eles até Emaús encontrando-os num estado de tristeza e de abatimento. Ele falou a respeito das Escrituras que deveriam se cumprir nele, pois ele passaria pelos sofrimentos para chegar à gloria da ressurreição. Jesus não se manifestou logo, mas ele se deu numa alegria também grande que era a sua presença na eucaristia, no partir do pão. Naquele momento eles reconheceram Jesus ressuscitado, alegraram-se, porque o Senhor ressuscitou dos mortos (Lc 24, 13-35). Aquelas pessoas o tocaram e acreditaram nele. A pessoa é chamada a alegrar-se no Senhor, pelo fato de que ele criou o ser humano e também porque ele é a fonte da nossa alegria[3]. Santo Agostinho diz que todo o fiel deve se alegrar na presença de Jesus ressuscitado na sua palavra e na eucaristia.
A alegria em vista da vida eterna
Santo Agostinho teve ainda presente o ponto de que a alegria da ressurreição é em vista da vida futura, a eterna. Ele comentou a passagem da Sagrada Escritura em São João que diz: “Eu vos verei outra vez, e o vosso coração se alegrará, e ninguém poderá tirar a vossa alegria”(Jo 16,22). E também na outra passagem que diz que a pessoa “o verá como Ele é” (1 Jo 3,2). Na condição de Ressuscitado, o Senhor já tinha se manifestado aos discípulos na sua carne, sentou-se à direita do Pai, mas ele estava junto deles, de modo que se tratou da alegria da vida eterna, da vida divina que as pessoas terão para viver para sempre com ele[4].
A vivência da alegria
O Pastor de Hermas, escrito do III século, colocou o dado da vivência da alegria no seguimento a Jesus Cristo e à Igreja. A tristeza impossibilita a presença do Espírito Santo. Assim é importante revestir-se da alegria que agrada a Deus e ele a aceita com amor. O ser humano alegre realiza sempre o bem, e despreza a tristeza. A tristeza pode levar a pessoa ao mal e a praticar a injustiça. O autor levou os seus fieis à superação da tristeza para assim revestir-se da alegria, e viver um dia em Deus[5], como pessoas ressuscitadas pela ressurreição de Cristo Jesus.
A importância da encarnação com a ressurreição de Jesus
Gregório de Nazianzo, bispo de Constantinopla, século IV afirmou a importância de o Senhor ter-se encarnado para a nossa salvação e que tudo está ligado com a sua ressurreição. Ele se fez pobre, para que nós, graças à sua pobreza, nos tornássemos ricos (2 Cor 8, 9). Ele assumiu o aspecto de um servo (Fl 2,7) para que o ser humano obtivesse a liberdade, desceu em baixo, para que o ser humano fosse elevado em alto; deixou-se desprezar para doar ao ser humano a glória; ele morreu para dar a todos a salvação[6]. A sua ressurreição completou a sua vida de doação iniciada pela sua encarnação. Por isso a vida de Jesus pela sua morte e ressurreição é fonte de alegria para todo o ser humano, motivo de alegria infinita, de salvação, de amor.
A ressurreição de Jesus alude a vida divina de todo o ser humano, porque a morte não é o ponto final, mas a vida futura, a vida eterna. O bem realizado, o amor dado às pessoas não passará, mas aponta para a vida divina. A morte não tem mais poder sobre Jesus(Rm 6,9), de modo que todos os que o seguem viverão a alegria da ressurreição pela prática de boas obras.
Fonte: CNBB Norte 2
[1] Cfr. Giovanni Crisostomo. Omelie sulle statue 18,1-2. In: Nuove Letture dei Giorni. Magnano (BI), Edizioni Qiqajon, 2010, pgs. 156-157.
[2] Cfr. Cirillo di Gerusalemme. Catechesi battesimali, 14,1. In: La teologia dei padri, v. 2. Città Nuova Editrice, Roma, 1982, pgs. 136.
[3] Cfr. Agostino di Ippona. Esposizioni sui salmi, 63,17. In: Nuove Letture dei Giorni, pgs. 158-159.
[4] Cfr. Agostino di Ippona. Commento al Vangelo di Giovanni 101, 5-6. In: Idem, pg. 159.
[5] Cfr. O Pastor de Hermas, 41-42. In: Padres Apostólicos. São Paulo, Paulus, 1995, pg. 208-209.
[6] Cfr. Gregorio di Nazianzo. Sulla santa Pascoa, 1, 4-5. In: La teologia dei padri, v. 2, pgs. 135-136.