José Antonio Pagola
Todos esperam que Jesus se some à rejeição geral daquela mulher surpreendida em adultério, humilhada publicamente, condenada por escribas respeitáveis e sem defesa possível diante da sociedade e da religião. Mas Ele desmascara a hipocrisia daquela sociedade, defende a mulher da perseguição injusta dos varões e a ajuda a iniciar uma vida mais digna.
A atitude de Jesus diante da mulher foi tão “revolucionária” que, depois de vinte séculos, continuamos em boa parte sem querer entendê-la nem assumi-la. O que podemos fazer em nossas comunidades cristãs?
Em primeiro lugar, atuar com vontade de transformar a Igreja. A mudança é possível. Temos que sonhar com uma Igreja diferente, comprometida como ninguém em promover uma vida digna, justa e igualitária entre homens e mulheres.
Temos que tomar consciência de que nossa maneira de entender, viver e imaginar as relações entre homem e mulher nem sempre provém do Evangelho. Somos prisioneiros de costumes, esquemas e tradições que não têm sua origem em Jesus, pois levam ao domínio do homem e à subordinação da mulher.
Temos de eliminar já da Igreja visões negativas da mulher como “ocasião de pecado”, “origem do mal”, ou “tentadora do homem”. Desmascarar teologias, pregações e atitudes que favorecem a discriminação ou desqualificação da mulher. Tudo isto simplesmente não contém “Evangelho”.
Temos de romper o inexplicável silêncio que há em não poucas comunidades cristãs diante da violência doméstica que fere os corpos e a dignidade de tantas mulheres. Nós cristãos não podemos viver de costas a uma realidade tão dolorosa e frequente. O que não gritaria Jesus hoje?
É preciso reagir contra a “cegueira” generalizada dos homens, incapazes de captar o sofrimento injusto a que se vê sujeita a mulher, só pelo fato de ser mulher. Em muitos setores é um sofrimento “invisível” que não se conhece ou não se quer reconhecer. No Evangelho de Jesus há uma mensagem particular, dirigida aos homens que ainda não escutamos nem anunciamos com fidelidade.
Fonte: Franciscanos
JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.