28º Domingo do Tempo Comum: Quando “ir” significa “voltar”

Imagem ilustrativa de Frei Fábio Melo Vasconcelos

Por Frei Gustavo Medella

 

Acordar, recordar, concordar… Ações que têm o coração como raiz: a “corda-mãe”, a matriz pulsante que confere o som, a vibração, a percussão e o ritmo da vida e da existência. Após alcançar de Deus a graça da cura, Naamã, o sírio, recolhe duas medidas do coração da terra para que seu coração jamais se esquecesse d’Aquele que o fazia pulsar, pelo qual superara as dores e lutas da doença, do medo, da incompletude. Diante da sábia recusa de Eliseu, Naamã percebe que não há maior presente a deixar do que a gratidão e o reconhecimento.

Em resposta à Palavra proclamada, o Salmo (97) também menciona o quanto Deus recorda ao povo seu amor sempre fiel: corda que, ao contrário do que se pensa, não se arrebenta no lado mais fraco, mas torna-se corda de salvação para acudir o indigente, o pobre, o desvalido. Corda que não aprisiona, mas liberta até quem está prisioneiro da truculência, do orgulho e da sede de dominação, tal como estava o Apóstolo Paulo conforme o mesmo descreve na 2ª Carta a Timóteo (2Tm 2,8-13). Ele estava preso, mas nada é capaz de algemar a Palavra.

No Evangelho, a Palavra libertadora se faz proximidade e instrução. O Mestre não prescreve nenhuma receita extraordinária àqueles leprosos que se recomendaram à sua compaixão: “Ide apresentar-vos aos sacerdotes”. Compadecer-se é ajudar o outro a trilhar seu próprio caminho de descoberta e libertação. É permitir que a própria pessoa se descubra protagonista do caminho de amor que Deus chama cada um de seus filhos a percorrer.

No percurso da maturidade, entre dez homens com o mesmo problema, apenas um percebe que, com frequência, na vida, ir significa voltar. Atento à ordem do Mestre, a si mesmo e ao caminho que percorria, percebeu-se curado e assimilou a lição de que a meta não se encontra estática no fim da caminhada, mas se constrói passo a passo, como a graça que eles receberam no caminho. Cada passo é um milagre!

O texto é claro em garantir que os dez leprosos ficaram curados no caminho. No entanto, não deixa tão explícito se os outros nove que não voltaram para agradecer ao Senhor já teriam se dado conta da própria cura. A liturgia deste 28º do Tempo Comum é oportunidade valiosa para que nós e nossas comunidades façamos um discernimento à luz da fé, a fim de não negligenciarmos as muitas graças que devemos, diariamente, render a Deus pelas muitas curas que Ele nos proporciona no decorrer da caminhada.

Fonte: Franciscanos

 


FREI GUSTAVO MEDELLA, OFM, é o atual Vigário Provincial e Secretário para a Evangelização da Província Franciscana da Imaculada Conceição. Fez a profissão solene na Ordem dos Frades Menores em 2010 e foi ordenado presbítero em 2 de julho de 2011.

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